Evangelho de Judas, local da descoberta, El Minya, Egito |
A notícia sobre um papiro, velho de 1.700 anos, deu volta ao mundo com grande orquestração publicitária. O nome do escrito inspira horror: Evangelho de Judas.
O conteúdo é tão ofensivo quanto falso: Judas teria sido o discípulo perfeito do Redentor! O mercador péssimo teria perpetrado a infame traição em combinação com o próprio Filho de Deus! E isso porque Nosso Senhor Jesus Cristo ansiava libertar-se do “invólucro carnal”, segundo pregam as religiões pagãs mais prenhes de panteísmo e gnose.
Um documento sobre esse pseudo-evangelho, dito de Judas, foi emitido pelo National Geographic Channel no Domingo de Ramos, reincidindo no velho costume anticlerical de difundir blasfêmias ou fraudes religiosas durante a Semana Santa.
Porém, bem analisada, a manobra publicitária acaba se voltando contra os seus autores. Pois o estudo sereno do velho papiro fornece, de um lado, uma inesperada confirmação de ensinamentos¬ da Igreja; de outro, esclarece aspectos nebulosos da “autodemolição” da Igreja, de que falou S.S. Paulo VI.
Assim é a santidade da Igreja Católica. Quando seus adversários julgam dar-lhe um golpe formidável, este vira-se contra eles, para maior glorificação da Esposa de Cristo.
Mostra sobre o Evangelho de Judas, National Geographic Society, Washington |
Os falsos e milenares papiros encontrados
O Evangelho de Judas consta de 13 folhas escritas frente e verso, em língua copta, tendo poucos parágrafos claramente legíveis. Foi encontrado em 1978 numa caverna de El Minya, no Egito, integrando um conjunto de apócrifos de conotações esotéricas.
Chamam-se apócrifos os livros não-canônicos, ou seja, que não pertencem à Revelação. Há dezenas deles. Alguns aportam dados históricos, muitos contêm graves erros e outros não passam de panfletos mal-intencionados.
Após muitas peripécias — algumas, por certo, bastante obscuras — os papiros chegaram à National Geographic Society, graças à Maecenas Foundation for Ancient Art e ao Waitt Institute for Historical Discovery, que arcaram com os milionários custos de restauração e análise. Os estudos científicos foram efetivados por uma equipe de técnicos especializados em manuscritos coptas. Estes concluíram que as folhas datam dos anos 220-340 da era cristã.
Origem do Evangelho de Judas denunciada por Santo Irineu
Assim sendo, tratar-se-ia de cópia de um apócrifo –– já condenado no ano 180 por Santo Irineu, bispo de Lyon e Padre da Igreja –– do qual não se conservava exemplar algum.
Fragmento do Evangelho de Judas |
O cabeça de tais perturbadores foi Simão, o Mago. Esse feiticeiro quis comprar dos Apóstolos o poder de fazer milagres. São Pedro repeliu-o, dizendo: “Tu estás preso nos laços da iniqüidade” (Atos, 8, 23).
Simão, o Mago, é tido como o “pai das heresias”, e de sua sacrílega tentativa vem o nome do pecado de simonia. Seus seguidores pregavam a velha doutrina da gnose (literalmente: “conhecimento”), segundo a qual os seres teriam sido criados por uma potência maligna ou seriam fruto de alguma desgraça cósmica.
Para os gnósticos, seria bom que os seres deixassem de existir ou se dissolvessem no nada. Em estulta contradição, eles atribuem a esse nada um valor divino. No conhecimento dessa doutrina e dos meios para realizar seu objetivo niilista consiste a essência da gnose — talvez o pior dos erros.
Entre os prosélitos de Simão, o Mago, Santo Irineu aponta a seita dos cainitas. Estes diziam que Caim foi criado por um poder superior. Ademais, julgavam-se irmãos espirituais de Esaú, de Coré, dos habitantes de Sodoma e outros semelhantes.
“E dizem — acrescenta Santo Irineu — que Judas, o traidor, foi o único que conheceu todas estas coisas exatamente, porque só ele entre todos conheceu a verdade, para realizar o mistério da traição [...]. Para isso mostram um livro que eles inventaram, que chamam de Evangelho de Judas”. Santo Irineu conta ter “recolhido esses escritos, nos quais eles incitam a destruir a obra do Criador do Céu e da Terra”.
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