A Escada Santa restaurada. Cruz dourada no lugar onde Nosso Senhor teria vertido uma gota de sangue |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
O Pontifício Santuário da “Escada Santa” em Roma, a escada que segundo antiga e consagrada tradição da Igreja, Jesus Cristo subiu derramando sangue para ser julgado pelo cônsul romano Pôncio Pilatos pôde ser vista e subida em contato direto pelos romeiros desde a Páscoa até a festa de Pentecostes.
A “Escada Santa” de Roma foi trazida do pretório [residência do comandante na Roma Antiga] do cônsul Pilatos em Jerusalém e têm 28 degraus de mármore.
É a primeira vez que acontece nos últimos três séculos.
A exceção se compreende bem olhando o estado dos degraus.
Tão grandes multidões de peregrinos penitentes subiram essa escada piedosamente – de joelhos a maioria – que o mármore ficou profundamente desgastado.
Esse ficou tão consumido pela passagem de milhares de fiéis que cada degrau se assemelha a uma calha e em certos pontos acabou furado.
Por causa do desgaste, os papas decidiram revestir a escada de madeira de nogueira, deixando exposta a parte que não se pisa e por onde se pode ver a pedra.
“Durante sessenta dias poderemos galgar com nossos joelhos e tocar diretamente o próprio mármore que Jesus em pessoa pisou no pretório onde foi julgado por Pôncio Pilatos”, explicou o Pe. Francesco Guerra, reitor do Santuário.
A escadaria toda em mármore foi restaurada durante os últimos dois anos, desvendando, segundo os jornais, alguns de seus segredos melhor guardados.
Pelo desgaste do mármore pode se imaginar quantos fiéis subiram de joelhos |
Os degraus foram recuperados no ano 326 d.C. em Jerusalém por Santa Helena (250 – 330), mãe do imperador Constantino (272 – 337).
Em peregrinação à Palestina, a santa se empenhou em identificar as relíquias da vida, Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo.
Ela as levou para Constantinopla pois corriam graves riscos pela invasão de pagãos que estavam acontecendo. Nos séculos posteriores foram transferidas a Roma ou a alguns santuários famosos.
Santa Helena ordenou a construção de igrejas, como a da Natividade em Belém e do Santo Sepulcro em Jerusalém. Mas, a Santa ela própria foi sepultada em Roma.
Atribui-se a ela a identificação e recuperação no Gólgota da Santa Cruz no ano 337 d.C. Ela ficou associada ao Santo Lenho para sempre, embora alguns apresentam objeções à autoria da descoberta.
A “Escada Santa” está montada num prédio religioso face a face, mas independente, da basílica de São João Latrão.
Por meio do Edito de Milão, em 313 o imperador Constantino acabou com as perseguições, legalizou o culto cristão e a religião católica passou a ser a religião oficial do Império.
O palácio de Latrão foi doado pelo imperador ao Sumo Pontífice, e passou a ser sede do Papado e, naturalmente, do bispo de Roma.
Fiéis sobem de joelhos em ato de penitência e louvor. (chinelos azuis para efeitos de limpeza) |
A “Escada Santa” foi instalada num pórtico do lado de fora do antigo palácio imperial em Latrão.
Em 1589, o Papa Xisto V ordenou construir um edifício específico para atender a enormidade de romeiros que queria subir por ela em sinal de veneração, penitência, reparação, pedido de graças e perdão.
No topo da escada se encontra a “Sancta Sanctorum”, pequena capela onde os pontífices se recolhiam em oração na Idade Média. Ela guarda um riquíssimo tesouro de relíquias que podem ser vistas a través de uma sólida grade.
Foi em 1723 que o papa Inocêncio XIII mandou cobri-la com madeira de nogueira para protege-la da avançada usura.
Na restauração recente, ao retirar as tábuas se confirmou a presença de três cruzes douradas onde caíram gotas de sangue de Cristo.
Uma é de bronze e está no degrau mais alto. Outra está no primeiro degrau que é de mármore vermelho. E a terceira no décimo primeiro, onde o Redentor tropeçou e quebrou a pedra, segundo a tradição.
Também foi achada uma enorme quantidade de moedas, bilhetes e cartas com orações, ou exprimindo temores, desejos, preocupações e pedidos de graças. Durante séculos os fiéis as foram introduzindo pelas frestas da madeira.
Agora vão ser estudadas de um ponto de vista histórico, explicou a diretora dos Museus Vaticanos, Barbara Jatta.
A restauração faz parte de um projeto que inclui recuperar os ricos frescos do teto e das paredes que se encontram muito danificados e até rachados.
O Bom Jesus desce a escada após ouvir a iníqua condenação. Ludovico Mazzolino (1480 — 1528). |
Jesus subiu a escada no momento que os enviados do Sinédrio clamavam pela sua morte.
Eles próprios tinham poder para mata-lo, mas não o faziam porque estavam na época da Páscoa em que a lei de Moisés proibia executar alguém.
E então recorreram ao chefe romano, portanto estrangeiro, que obedecia a uma outra lei religiosa e civil.
Pilatos interrogou a nosso Salvador e logo percebeu que não tinha culpa alguma.
Mas teve medo dos encolerizados judeus que o ameaçaram de denunciá-lo ao imperador.
Então Pilatos achou melhor manda-lO flagelar e apresenta-lo coberto de chagas, imaginando que os agitadores se sensibilizariam e aceitariam que não fosse morto.
Após ser cruelmente flagelado e coroado de espinhos, o Bom Jesus ascendeu por essa escada para ser exposto enquanto Pilatos bradava ao populacho: “Ecce Homo!” (“Eis o homem!”).
Mas tomados de ódio satânico, os judeus exigiram a morte do Bom Jesus.
E Pilatos, débil e acovardado, o entregou à morte.
A “Escada Santa” esteve no percurso que conduziu ao mais injusto julgamento da História.
Quem nessa hora teria imaginado que aquela escada haveria de ser percorrida durante milênios por milhões de homens redimidos pedindo perdão de joelhos pela injustiça e oferecendo sua reparação ao Bom Jesus?
Vídeo: a escada que Jesus flagelado galgou antes de ser condenado
Eu vi algumas notícias sobre essa escada na internet, mas o seu texto foi o mais rico de informações. Parabéns!
ResponderExcluirOuvi dizer que nesse santuário são realizados exorcismos! Gostaria de saber mais sobre essa atividade que é exercida lá.
ResponderExcluir