segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Achada uma civilização perdida: o reino maldito de Esaú

Túmulos perto de Petra, Jordânia. Foi uma capital edomita
mas os entalhes são nabateus, civilização posterior.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




Há cidades ou civilizações perdidas que intrigam os homens modernos. Algumas pertencem mais provavelmente à lenda, mas de outras há lembranças dignas de crédito.

O que foi delas? Por que desapareceram? Foram amaldiçoadas’

Desapareceram totalmente ou acabaram se integrando em alguma outra, dando origem a filões psicológicos que continuaram influenciando a História mais ou menos sorrateiramente?

Os casos de Caim e Esaú nos interessam especialmente pela sua presença na Bíblia. Aonde foram eles? No que é que deram?

Entre essas incógnitas históricas cabe o reino bíblico de Edom, ou o reino fundado por Esaú após vender sua primogenitura e abandonar o lar paterno.

Mais recentemente, um longo trabalho veio trazer a lume os vestígios desse reino, extinto há milênios, mas que deixou um filão moral e cultural de representantes até no Novo Testamento.

E houve os que tiveram um papel horroroso na Paixão e Morte de Nosso Senhor, segundo narram os Evangelhos.

Edom significa “vermelho”, da mesma maneira que “Esaú”, pela cor da sopa em troca da qual vendeu seus nobres direitos.

Abandonando o lar, internou-se no deserto com a família e animais e sua sorte foi sempre foi um quebra-cabeça significativo para a arqueologia bíblica.



6. “Esaú tomou suas mulheres, seus filhos e suas filhas, assim como todo o seu pessoal, seus rebanhos, seus animais e todos os bens que tinha adquirido na terra de Canaã, e mudou-se para longe de seu irmão Jacó.

“7. Seus bens eram, com efeito, numerosos demais para que pudessem morar juntos, e a terra em que habitavam não lhes bastava, por causa dos seus muitos rebanhos.

“8. Esaú estabeleceu-se na montanha de Seir. Esaú chamava-se também Edom”. (Gênesis, 36, 5-8)

Símbolo da inimizade entre os filhos da Virgem e os da serpente


A descendência de Esaú, os edomitas, aparecem no relato bíblico
encarnado os réprobos, como sugere
a capa desta edição recente de livro do século XIX
Esaú casou com mulheres contra a vontade de seus pais Isaac e Rebeca (Gn 26:34-35).

Sua hereditariedade se uniu a povos inimigos de Israel como cananeus, filisteus e egípcios.

A história sagrada inclui vários graves conflitos armados que tinham como fundo permanente a inimizade entre os predestinados filhos da luz (simbolizados na descendência de Jacó) e os réprobos, filhos das trevas (de Esaú).

Sobre essa inimizade psicológica e religiosa veja: Comentários ao Tratado da Verdadeira Devoção - Interpretação da história de Jacó

Saul teve problemas com os edomitas (I Sm 14:47). Davi venceu um exército de 18.000 deles e subjugou suas terras (II Sm 8:13-14).

Joab, general do exército de Davi ficou nas terras dos edomitas para “exterminar todos os varões de Edom” (I Reis, 11, 15-16).

Mas “Adad, o edomita, da linhagem real de Edom” fugiu para o Egito com quem fez aliança. Quando Davi morreu, voltou para montar uma revolta contra Salomão (I Reis, 11, 17ss).

O reino de Edom existiu desde o século XII a.C. e fazia fronteira com Moabe ao nordeste, Arava ao oeste e o deserto da Arábia ao sul e leste.

O reino dos edomitas ou idumeus (nome romano) foi destruído pelos babilônios por volta do século VI a.C. e se extinguiu pelo ano 125 a.C. Acabaram subjugados pelo rei de Israel João Hircano.

Os israelitas os obrigaram a praticar o judaísmo porque os consideravam primos, por descenderem de Esaú, irmão de Jacó, pai dos judeus.

Descendentes de Esaú contra Jesus Cristo na Sua Vida, Paixão e Morte


Porém essa anexação religiosa forçada acabaria dando num desastre: na transição do Antigo para o Novo Testamento uma estirpe criminosa descendente de Esaú ficou ilegitimamente com a coroa do povo escolhido.

Herodes o Magno ordena a massacre dos inocentes de Belém
Herodes Arquelau ordenou a massacre dos inocentes de Belém
era edomita, descendente de Esaú, detestado pelo povo.
O principal foi Herodes o Grande (74/73 a.C. — 4 a.C.), descendente daquele que vendeu a primogenitura por um prato de lentilhas, mas de costumes judeu-romanos, rei cliente de Israel entre 37 a.C. e 4 a.C. odiado pelo povo.

Ele foi a Roma, onde galgou posições na Corte imperial até obter o ambicionado título de rei da Galileia.

Apoiado pelo poder romano se instalou num esplêndido palácio real por ele construído e que acabaria sendo usado como pretório por Pilatos e onde Jesus foi condenado a morte.

Ele foi tido como “um louco que assassinou a própria família e inúmeros rabinos” (cfr. Herodes, Wikipedia).

Herodes o Grande é conhecido por seus colossais projetos de construção em Jerusalém, em especial a reconstrução do segundo Templo, por vezes chamado de Templo de Herodes.

Herodes Arquelau, seu filho e sucessor, ordenou massacrar as crianças de menos de dois anos em Belém visando matar o Messias de que falaram os Reis Magos, e ganhou a hostilidade dos judeus como cruel e despótico.

O imperador Augusto achou que Herodes Arquelau era um incompetente, o enviou ao exílio, e nomeou Herodes Antipas, outro filho de Herodes o Grande, como soberano da Galileia (de 6 a 39 d.C.).

Ele mandou degolar a São João Batista. Nosso Senhor foi conduzido a sua presença para ser condenado. Jesus não lhe deu atenção e esse Herodes não teve coragem de fazer nada. Morreu destronado no desterro.

Seu sucessor Herodes Agripa I morreu corroído pelos vermes: “o anjo do Senhor o feriu, por ele não haver dado honra a Deus. E, roído de vermes, expirou”. (Atos dos Apóstolos, 12, 23). Verbete Herodes, em Wikipedia.

A dinastia herodiana se extinguiu com Herodes Agripa II, destronado pelos judeus que se rebelaram contra Roma e acabaram sendo dispersos. Jerusalém foi destruída, o Templo foi saqueado, queimado e arrasado até os fundamentos pelos romanos.

Descoberta de Edom fornecedor de armas para os inimigos de Israel


O Gênesis fala de Edom como terra próspera, mas, durante anos, os especialistas não encontraram registros arqueológicos confirmando quando e onde existiu.

Agora um estudo de uma equipe de cientistas divulgado em 18 de setembro de 2019 na revista de acesso aberto PLOS ONE descobriu que Edom realmente existiu na época e no local mencionados pela Bíblia.

Edom fornecia o cobre para as armas das guerras dos faraós
Edom fornecia o cobre para as armas das guerras dos faraós
O artigo leva o título “Tecnologia antiga e mudança pontuada: detectando o surgimento do Reino Edomita no Levante do Sul”.

Ele foi elaborado por uma equipe chefiada pelo professor Erez Ben-Yosef, da Universidade de Tel Aviv, do Projeto Central Timna Valley, e pelo Prof. Tom Levy, do Projeto de Arqueologia Regional das Terras Baixas de Edom, da Universidade da Califórnia – San Diego, nos EUA.

“Nossos resultados provam que o reino surgiu antes do que se pensava anteriormente e de acordo com a descrição bíblica”, explicou o professor Ben-Yosef.

Ben-Yosef, o professor Tom Levy e sua equipe foram ao deserto de Arava para analisar a fonte da riqueza do reino: o cobre.

Pois as herdades de Esaú eram muito práticas para a tecnologia, a metalurgia e a produção material.

Os arqueólogos determinaram que o reino dos descendentes de Esaú não só existiu no momento em que a Bíblia descreve, mas também que era um reino poderoso e tecnologicamente avançado, disse Ben-Yosef à CBN News.

“Isto apoia a noção de um reino forte, responsável por realizar uma indústria de larga escala na produção de cobre”, disse Ben-Yosef.

O mais importante foi o complexo mineiro de Tamina – ao sul de Israel, local das lendárias minas do rei Salomão –, e de Faynan, ao norte do anterior, no vale do Arava, na Jordânia.

Reino de Edom por volta de 830 a.C.
Reino de Edom por volta de 830 a.C.
O cobre era um material apreciado, usado nos tempos antigos para armas, escudos de defesa, ferramentas agrícolas e muito mais. “Se você quisesse ser forte, precisava ter cobre”, disse Ben-Yosef.

A mais famosa das antigas minas de cobre edomita, Tamina, leva o nome de uma concubina de um filho de Esaú, mencionada no Gênesis (36, 12).

Os egípcios vizinhos confiavam na mina de Tamina, pois era sua fonte mais próxima de cobre de que precisavam para sua expansão.

O cobre era usado para forjar ferramentas, decorações e armas, e constituía uma mercadoria importante no mundo antigo, informou “The Times of Israel”.

A equipe também encontrou evidências ligando Edom a outro grande evento bíblico: a invasão da Terra Santa pelo por “Sesac, rei do Egito” que “por causa dos pecados de Jerusalém contra o Senhor” (II Crônicas, 12,2) invadiu Jerusalém no século X a.C.

O faraó “levou os tesouros do Templo do Senhor e os do palácio real, sem nada deixar. Levou especialmente os escudos de ouro que Salomão tinha fabricado” (id. 12, 9).

O Egito, país idólatra inimigo de Israel, dependia dos Esaús para o cobre que sua indústria, sobretudo a bélica, importava. E a progênie de Esaú lhe fornecia em quantidades tais, que foram necessárias inovações tecnológicas em toda a região.

Os filhos de Esaú importaram o camelo egípcio à região para auxiliar no transporte dos produtos, logo após a chegada do faraó Sesac.

Nossas novas descobertas são consistentes com a história bíblica de que havia um reino edomita aqui”, concluiu Ben-Yosef.

“A fundição de cobre era essencialmente a alta tecnologia dos tempos antigos”, explicou Ben-Yosef ao “The Jerusalem Post”.

“Antes de construir sua capital no planalto, os edomitas eram um reino complexo e organizado, mas ainda eram nômades”, disse Ben-Yosef.

Escavações em andamento no vale de Tamina, Israel (E. Ben-Yosef & Central Timna Valley Project)
Escavações em andamento no vale de Tamina, Israel
(E. Ben-Yosef & Central Timna Valley Project)
“Eles moravam em tendas. Não tinham aldeias ou cidades, mas possuíam cemitérios e locais de fundição”, prosseguiu.

O saque do Templo “cinco anos após a morte do rei Salomão”, “foi muito traumático para Jerusalém”, disse Ben-Yosef.

“Sesac, rei do Egito, atacou, pois, Jerusalém. Levou os tesouros do Templo do Senhor e os do palácio real, sem nada deixar. Levou especialmente os escudos de ouro que Salomão tinha fabricado”, (II Crônicas, 12, 9)

Ele apontou uma documentação dessa invasão proveniente dos próprios egípcios.

Um relevo no Portal Bubastita, descoberto em Karnak, descreve essa conquista, disse ele.

Os descendentes de Esaú controlavam uma rede de cobre, exportando para a Grécia e também provavelmente para Damasco.

“Encontramos tecidos simples e elaboradamente decorados, usados pelos artesãos altamente qualificados e respeitados que gerenciavam os fornos de cobre”, afirmou Ben-Yosef na publicação dos têxteis em 2016.

Ben-Yosef explicou que as novas descobertas sugerem fortemente que a Bíblia estava certa, mesmo quando as evidências arqueológicas originais não pareciam somar.

“Nossas novas descobertas são consistentes com a história bíblica de que havia um reino edomita aqui”, concluiu.


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