segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Arqueólogos dão com o local
do segundo milagre da multiplicação de pães e peixes

Multiplicação dos pães e peixes, catedral de Lille, França
Multiplicação dos pães e peixes, catedral de Lille, França
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Andares com cenas de mosaicos coloridos, incluindo uma cesta com pães, um pavão e peixes, foram trazidos à luz por arqueólogos da Universidade de Haifa, em Hippos, perto do Mar da Galileia (ou Lago Kinneret) no local da bizantina “igreja queimada”, noticiou o quotidiano israelense “The Jerusalem Post”.

Hippos era uma rica cidade que fascinava por centenas de colunas de granito vermelho egípcio e era habitada por pagãos.

Esse dado interessa ao tratar do “milagre dos sete pães e peixes”, ou segundo milagre de multiplicação, denominado ainda “alimentando os 4.000”.

Ela é a “cidade situada em uma colina” que Jesus tomou como exemplo para mostrar que a Igreja e a verdade devem se exibir a pleno sol e não ficar dissimuladas ou envergonhadas.

“14. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre uma montanha

15. nem se acende uma luz para colocá-la debaixo do alqueire, mas sim para colocá-la sobre o candeeiro, a fim de que brilhe a todos os que estão em casa.

16. Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus.”” (São Mateus, 5, 14-16



As ruínas da igreja dos achados

A igreja de época bizantina provavelmente foi incendiada durante a invasão iraniana no ano 614 d.C. O Império dos Iranianos foi o último Estado persa antes da chegada do Islã ao Oriente Médio.

Arqueólogos israelenses, poloneses e americanos escavam no local desde 1993, sendo hoje  supervisionados pelo Dr. Michael Eisenberg do Instituto de Arqueologia da Universidade de Haifa.

Outros trabalhos de recuperação da igreja foram confiados à supervisora júnior da área, Jessica Rentz.

Ela expôs toda a área interna da igreja, uma superfície de 10x15 metros, bem como um par de batentes de porta em fundição de bronze na forma de leões rugindo.

Eisenberg disse que os elementos agora postos à luz foram preservados em excelentes condições pelas cinzas que os cobriram e funcionaram como proteção.

Fundamentos da ‘igreja queimada’ cujos mosaicos falam dos milagres das multiplicaç€oes dos pães e peixes
Fundamentos da ‘igreja queimada’ cujos mosaicos falam dos milagres das multiplicaç€oes dos pães e peixes
Há inscrições ligando a igreja ao mártir São Teodoro de Heracleia, dito Estratelata (“comandante militar”), também chamado Teodoro de Euceta, militar renomeado pela sua caridade, bela aparência e bravura.

São Teodoro comandava a cidade de Heracleia Pôntica sob o imperador romano Licínio (307-324) quando se iniciou-se uma feroz perseguição aos cristãos.

São Teodoro fez com que todos os ídolos pagãos em ouro ou prata da cidade fossem levados à sua casa. Então os despedaçou e distribuiu os cacos aos pobres, sendo por isso preso, torturado e crucificado.

A crucificação nada conseguiu e São Teodoro seguia vivo, foi degolado por uma espada.

Na igreja a ele consagrada, Yana Vitkalov, da Autoridade de Antiguidades de Israel, cuidou de recuperar grande parte da área de mosaicos.

A maioria das decorações e duas inscrições em grego ficaram visíveis. A primeira inscrição fala dos dois padroeiros da igreja, São Teodoro e Petros.

Uma segunda localizada dentro de um medalhão, no centro do mosaico, exibe o nome do mártir São Teodoro.

Lembranças da primeira multiplicação para os judeus

Os mosaicos dos pães podem se referir ao milagre com que Jesus alimentou cinco mil judeus com cinco pães e dois peixes ou primeira multiplicação de pães e peixes.

Pois outros mosaicos retratam 12 canastras repletas de pão conferindo com o Novo Testamento que descreve os discípulos de Jesus retornando com esse número de cestos cheios.

“Os peixes têm um número simbólico”, continuou Eisenberg, “você não pode ignorar a semelhança com a descrição no Novo Testamento”, acrescentou.

Por sua vez o quotidiano “The Times of Israel”, citando ao Dr. Eisenberg, destacou o fato que os mosaicos representando peixes, pássaros e cestas de pão podem comemorar o local histórico onde Jesus milagrosamente alimentou uma multidão.

O mosaico colorido apareceu no Projeto de Escavação Hippos-Sussita, em andamento no sudoeste do Parque Nacional de Sussita (Hippos), nas ruínas da “igreja queimada”, nome dado porque não se sabe a denominação histórica, só que foi incendiada.

Cesto com pães no mosaico da 'igreja queimmada' em Hippos-Sussita (cortesia Michael Eisenberg)
Cesto com pães no mosaico da 'igreja queimmada' em Hippos-Sussita
(cortesia Michael Eisenberg)
O tapete de mosaico de 15 metros por 10 metros está repleto de peixes, pássaros e 12 cestas cheias de frutas, flores e pão.

O mosaico representaria a primeira multiplicação milagrosa feita por Nosso Senhor.

Dois peixes ocupam uma posição “heráldica” na abside da igreja, além de 12 cestas, algumas das quais cheias de romãs e provavelmente uma com maçãs e flores.

Outras cestas estão cheias de pães redondos: um com cinco pães, um ou dois com sete pães e dois com seis pães, disse o arqueólogo.

Porém, a localização tradicional do primeiro milagre é do outro lado do mar de Galileia, na Igreja da Multiplicação dos Pães e Peixes em Tabgha.

Essa abriga um famoso mosaico representando dois peixes de cada lado de uma cesta de pão.

Por que esse seria o local da segunda multiplicação feita para os pagãos

É a combinação de cestas de peixe e pão da igreja em Hippos que levou Eisenberg a acreditar que o mosaico poderia ser um registro do segundo milagre da multiplicação de pães e peixes.

“O simbolismo por trás do [mosaico] e a posição da igreja no lugar perfeito, com vista para o Mar da Galileia, me dá a certeza de que as pessoas reconheceram os lugares onde os milagres ocorreram”, disse Eisenberg ao“The Times of Israel”.

Um dos aspectos únicos do mosaico da “igreja queimada”, é o presépio “muito simples, ingênuo e até encantador encomendado pela população local”, afirmou.

Por volta de 20% do mosaico ainda não foi desentulhado.

Os dois milagres da multiplicação

Mosaicos da Igreja da Multiplicação em Tabgha, que lembrram o primeiro milagre
Mosaicos da Igreja da Multiplicação em Tabgha, que lembrram o primeiro milagre
Nos Evangelhos temos a narração de duas multiplicações de pães e peixes relativas a dois diferentes milagres de Nosso Senhor, junto ao mar da Galileia.

O padre Francesco Giosuè Voltaggio, da Galileia, doutor em arqueologia e diretor de um seminário na Galileia, explicou que “de acordo com o Evangelho e a antiga tradição cristã, houve duas multiplicações e dois lugares”.

A primeira multiplicação, conhecida como “alimentando os 5.000” (Mateus 14:13-21, Marcos 6:31-44, Lucas 9:10-17 e João 6:5-15) também é denominada “milagre dos cinco pães e dois peixes”. O número 5.000 estái arredondado por razões simbólicas.

Nessa vez, Nosso Senhor alimentou cerca de 5.000 homens judeus (mulheres e crianças não foram contadas) ao lado do mar da Galileia.

Na Antiguidade os números tinham uma importância simbólica que desapareceu na nossa época de mero pragmatismo contábil, mas foi bem conhecida pelos judeus e até pela Idade Média.

O cinco mil alude aos cinco livros da lei de Moisés, ou Pentateuco multiplicado mil vezes, onde o mil representa a plenitude da bem-aventurança. Quer dizer, os cinco mil representam os seguidores da Lei de Moisés que receberam o ensino das bem-aventuranças.

A localização exata é tradicionalmente apontada na Igreja da Multiplicação construída no século V em Tabgha. Cfr.: “Identificam o local do ‘milagre dos cinco pães e dois peixes’”

Evangelho de São Marcos:
“34. Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-se dela, porque era como ovelhas que não têm pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas.

35. A hora já estava bem avançada quando se achegaram a ele os seus discípulos e disseram: “Este lugar é deserto, e já é tarde.

36. Despede-os, para irem aos sítios e aldeias vizinhas a comprar algum alimento”.

37. Mas ele respondeu-lhes: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Replicaram-lhe: “Iremos comprar duzentos denários de pão para dar-lhes de comer?”.

38. Ele perguntou-lhes: “Quantos pães tendes? Ide ver”. Depois de se terem informado, disseram: “Cinco, e dois peixes”.

Multiplicação dos pães e peixes, catedral de Greensburg, Kansas
Multiplicação dos pães e peixes, catedral de Greensburg, Kansas
39. Ordenou-lhes que mandassem todos sentar-se, em grupos, na relva verde.

40. E assentaram-se em grupos de cem e de cinquenta.

41. Então, tomou os cinco pães e os dois peixes e, erguendo os olhos ao céu, abençoou-os, partiu-os e os deu a seus discípulos, para que lhos distribuíssem, e repartiu entre todos os dois peixes.

42. Todos comeram e ficaram fartos.

43. Recolheram do que sobrou doze cestos cheios de pedaços, e os restos dos peixes.

44. Foram cinco mil os homens que haviam comido daqueles pães.” (São Marcos, 6, 34-44)
 Evangelho de São João:
“5. Jesus levantou os olhos sobre aquela grande multidão que vinha ter com ele e disse a Filipe: “Onde compraremos pão para que todos estes tenham o que comer?”.

6. Falava assim para o experimentar, pois bem sabia o que havia de fazer.

7. Filipe respondeu-lhe: “Duzentos denários de pão não lhes bastam, para que cada um receba um pedaço”.

8. Um dos seus discípulos, chamado André, irmão de Simão Pedro, disse-lhe:

9. “Está aqui um menino que tem cinco pães de cevada e dois peixes... mas que é isto para tanta gente?”.

10. Disse Jesus: “Fazei-os assentar”. Ora, havia naquele lugar muita relva. Sentaram-se aqueles homens em número de uns cinco mil.

11. Jesus tomou os pães e rendeu graças. Em seguida, distribuiu-os às pessoas que estavam sentadas, e igualmente dos peixes lhes deu quanto queriam.

12. Estando eles saciados, disse aos discípulos: “Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca”.

13. Eles os recolheram e, dos pedaços dos cinco pães de cevada que sobraram, encheram doze cestos.” (São João, 6, 5-13)

Ruínas de Hippos, ou Sussita, a cidade pagã perto de onde foi desenterrada a 'igreja queimada'
Ruínas de Hippos, ou Sussita, a cidade pagã perto de onde foi desenterrada a 'igreja queimada'
Nosso Senhor fez um segundo milagre da multiplicação semelhante, explicou o Pe. Voltaggio, dando de comer a cerca de 4.000 pagãos. Por isso é referido como “alimentando os 4.000”.

Está narrado em São Mateus 15:32-39 e em São Marcos 8:1-9. Também é conhecido como “milagre dos sete pães e peixes” porque multiplicou sete pães e “alguns peixinhos”, na beira do lago.

O número quatro significa os quatro Evangelhos e a também às quatro partes do mundo que a Santa Igreja reunirá.

O mil representa, como dissemos, a plenitude da bem-aventurança. Quer dizer, esses 4.000 pagãos receberam também o ensino das bem-aventuranças, como sinal da futura conversão dos povos gentios que haveriam de se converter nos quatro cantos da Terra.

Evangelho de São Mateus:
"29. Jesus saiu daquela região e voltou para perto do mar da Galileia. Subiu a uma colina e sentou-se ali. (...)

32. Jesus, porém, reuniu os seus discípulos e disse-lhes: “Tenho piedade desta multidão: eis que há três dias está perto de mim e não tem nada para comer. Não quero despedi-la em jejum, para que não desfaleça no caminho”.

33. Disseram-lhe os discípulos: “De que maneira procuraremos neste lugar deserto pão bastante para saciar tal multidão?”.

34. Pergunta-lhes Jesus: “Quantos pães tendes?”. “Sete, e alguns peixinhos” – responderam eles.

35. Mandou, então, a multidão assentar-se no chão,

36. tomou os sete pães e os peixes e abençoou-os. Depois os partiu e os deu aos discípulos, que os distribuíram à multidão.

37. Todos comeram e ficaram saciados, e, dos pedaços que restaram, encheram sete cestos.

38. Ora, os que se alimentaram foram quatro mil homens, sem contar as mulheres e as crianças." (São Mateus, 15, 29-38)

Jesus nos Evangelhos lembra que foram dois. Simbolismo de cada um

Jesus envia os Apóstolos para evangelizar. Domenico Ghirlandaio (1449 – 1494)
Jesus envia os Apóstolos para evangelizar.
Eles voltariam com os cestos cheios de almas.
Domenico Ghirlandaio (1449 – 1494)
Posteriormente, Jesus lembrou aos Apóstolos as duas multiplicações como fatos diferentes  que realizou para lhes fazer sentir a pouca atenção que deram ao que Ele praticava.

“17. Jesus percebeu-o e disse-lhes: “Por que discutis por não terdes pão? Ainda não tendes refletido nem compreendido? Tendes, pois, o coração insensível?

18. Tendo olhos, não vedes? E tendo ouvidos, não ouvis? Não vos lembrais mais?

19. Ao partir eu os cinco pães entre os cinco mil, quantos cestos recolhestes cheios de pedaços?”. Responderam-lhe: “Doze”.

20. “E quando eu parti os sete pães entre os quatro mil homens, quantos cestos de pedaços levantastes?” “Sete” – responderam-lhe.

21. Jesus disse-lhes: “Como é que ainda não entendeis?”.” (São Marcos, 8, 17-21)

A primeira multiplicação foi para os judeus, disse Voltaggio. Os apóstolos voltaram com 12 cestas cheias em alusão ao apostolado que haveriam de fazer colhendo conversões entre membros das 12 tribos de Israel.

A segunda multiplicação foi para os pagãos pois restou comida suficiente para encher sete cestas.

O sete é número simbólico de infinidade, e aludia às conversões que os Apóstolos haveriam de fazer entre a infinidade dos povos gentios.

“Os peregrinos guardam a memória de um segundo milagre em Tel Hadar”, explicou Voltaggio. Tel Hadar que fica a cerca de 10 quilômetros ao norte da localização da antiga Hippos (chamada Sussita em aramaico), onde se encontra o mosaico da “igreja queimada”.

Ruínas da cidade de Hippos, ou Sussita, a cidade na elevação que dominava o Mar da Galileia (ao fundo)
Ruínas da cidade de Hippos, ou Sussita, a cidade na elevação que dominava o Mar da Galileia (ao fundo)
O arqueólogo Eisenberg supõe que este milagre poderia ter acontecido na extremidade norte do Território de Hippos (nome romano), que se estendia da parte sul ao canto norte do mar da Galileia, muito próximo de Tel Hadar.

“Acho que o milagre aconteceu lá”, disse ele.

Embora a segunda multiplicação esteja registrada em dois Evangelhos, existem aqueles que não acreditam que tenha ocorrido historicamente.

“Para alguns estudiosos, a segunda multiplicação é uma duplicação meramente simbólica”, disse o Pe. Voltaggio.

Porém, a nova descoberta, acrescentou, “revaloriza a historicidade dos dois milagres”, que segundo os Evangelhos ocorreram nos dois lados do mar da Galileia.


Vídeo: Arqueólogos nos locais da multiplicação de pães e peixes (espanhol)




Arqueólogos nos locais da multiplicação de pães e peixes (inglês)



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