São Filipe Apóstolo catequiza eunuco etiope, Exeter College chapel, Oxford. Fato nos Atos 8,26-4 |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Uma missão arqueológica italiana encontrou a primeira tumba de São Filipe Apóstolo.
Ele foi um dos 12 escolhidos por Nosso Senhor Jesus Cristo para serem os primeiros bispos.
Sobre eles, sob o primado de Pedro, Jesus estabeleceu a hierarquia da Igreja Católica.
A descoberta aconteceu em Pamukkale, antiga Hierápolis, na Anatólia Ocidental (Turquia).
O apóstolo Filipe morreu nessa cidade, depois de ter pregado na Grécia e na Ásia Menor, informou a agência Zenit.
Hoje as relíquias de São Filipe são veneradas na basílica dos Doze Apóstolos em Roma, para onde foram levadas em tempos remotos.
A Basílica foi construída para conservar seus restos e depois passou a ser dedicada aos Doze Apóstolos.
Está na praça do mesmo nome, junto ao Palácio Colonna, muito perto da centralíssima Piazza Venezia.
Porém, sabia-se que o primeiro túmulo do grande apóstolo estivera em Hierápolis, onde ele fora objeto de grande veneração.
Túmulo de São Filipe Apóstolo em Roma. Junto com o apóstolo São Tiago o menor |
Entretanto, a outrora orgulhosa e poderosa cidade de Hierápolis hoje está em ruínas.
Os vestígios do túmulo original haviam desaparecido.
Agora, a feliz descoberta foi realizada pela missão arqueológica italiana iniciada em 1957.
A missão de uma equipe internacional foi dirigida desde o ano 2000 por Francesco D’Andria, professor da Universidade de Salento-Lecce e diretor da Escola de Especialização em Arqueologia dessa universidade.
Por mais de trinta anos, ele trabalhou em Hierápolis, procurando o túmulo de São Filipe.
Em 2008, a equipe encontrou a rua que os peregrinos percorriam para chegar ao sepulcro do apóstolo. Até que no fim se atingiu essa tão procurada meta.
Ruínas de Hierápolis |
“Junto ao Martyrion (edifício de culto octogonal, construído no lugar onde São Filipe foi martirizado), encontramos uma basílica de três naves, do século V”, explicou o diretor da missão.
“Esta igreja foi construída ao redor de um túmulo romano do século I, que evidentemente gozava da máxima consideração, já que mais tarde se decidiu edificar ao seu redor uma basílica.
"Trata-se de uma tumba em forma de nicho, com uma câmara funerária.”
Colocando em relação esses e muitos outros elementos, “chegamos à certeza de ter encontrado o túmulo do apóstolo Filipe, que era meta de peregrinação a este lugar”, afirma D'Andria.
Todas as grandezas terrenas, como a da pomposa Hierápolis, passam e caem no esquecimento dos próprios humanos.
Museu de Hierápolis |
Seus túmulos são procurados até por especialistas sem fé, erguem-se igrejas para eles em cidades longínquas.
Até que no dia do Juízo Final ressuscitem em corpo e alma para reinar eternamente em tronos junto a Nosso Senhor Jesus Cristo.
A Cristofobia que hoje se manifesta na Turquia nessa hora terá sido reduzida a nada.
Fala o chefe da missão para achar o túmulo do apóstolo Filipe
Professor Francesco d'Andria |
“Há poucas notícias históricas sobre São Filipe”, diz o professor Francesco d'Andria, diretor da missão arqueológica que fez a descoberta.
Pelos Evangelhos sabe-se que era natural de Betsaida, no Lago de Genesaré, portanto pertencia a uma família de pescadores.
São João em seu Evangelho conta que São Filipe entrou no grupo de apóstolos desde o início da vida pública de Jesus, ele é o quinto depois de Tiago, João, André e Pedro.
“Pelos Atos dos Apóstolos sabemos que Filipe estava presente com os outros no momento da Ascensão de Jesus e no dia de Pentecostes, quando aconteceu a descida do Espírito Santo. A informação escrita termina nesse dia. Todo o resto vem da tradição”.
São Filipe Apóstolo, Bernat Jiménez (1483-1487) Igreja Paroquial de Blesa, Teruel. Museu de Zaragoza |
“Eusébio de Cesareia, em sua História Eclesiástica, refere que Papías, que foi bispo de Hierápolis no início do século III, conheceu as filhas de São Filipe e delas aprendeu detalhes importantes da vida do apóstolo, entre eles também a história de um milagre retumbante: a ressurreição de um morto”.
São Filipe morreu e foi sepultado em Hierápolis, no ano 80 DC. C., quando tinha cerca de 85 anos.
Ele morreu mártir pela fé, crucificado de cabeça para baixo como São Pedro.
Em uma data não especificada, o corpo de Filipe foi levado a Constantinopla para protegê-lo da profanação pelos bárbaros.
No século VI, sob o Papa Pelágio I, foi transferido para Roma e sepultado junto com o Apóstolo Tiago na igreja construída para eles chamada “Dos Santos Apóstolos”.
Em 1957, o professor Paolo Verzone, professor de engenharia da Politécnica de Turim, foi o primeiro a procurar o túmulo do apóstolo.
Ele concentrou as escavações em um monumento conhecido como a igreja de São Filipe, e descobriu uma extraordinária igreja octogonal.
Essa fazia pensar em um santuário identificado como o Martyrion, ou seja, a igreja do martírio de São Filipe, mas nunca encontrou nada que fizesse pensar no túmulo.
Vista aérea das ruínas do Martyrion |
Foi uma descoberta esclarecedora que nos fez compreender que toda a colina fazia parte de uma rota de peregrinação.
Cavando e limpando, veio à luz a planta de uma grande igreja com planta de basílica, com três naves.
Igreja maravilhosa, com capiteis de mármore, decorações requintadas, cruzes, frisos, ramos de plantas, palmeiras estilizadas dentro de nichos e um piso central com mosaicos de mármore com motivos geométricos coloridos: todos referentes ao século V.
Mas, no centro desta construção maravilhosa havia algo que nos tirou o fôlego.
Uma tumba romana típica do século I d.C. estava no centro da igreja construída ao redor do túmulo.
Podia ser o túmulo onde o corpo de São Filipe foi depositado após sua morte.
“Ao redor desse túmulo localizamos um grande complexo arqueológico que mostra que São Filipe, em Hierápolis, nos primeiros séculos da história cristã, gozou de grande popularidade e o culto a ele atribuído foi máximo”, diz o professor Francesco D’Andria.
Túmulo romano onde repousaram originalmente os restos de São Filipe Apóstolo. |
Vimos que as superfícies de mármore dos degraus foram consumidas pela passagem de milhares e milhares de pessoas.
Portanto, o túmulo recebeu uma extraordinária veneração.
Na fachada, nas paredes, encontram-se numerosos grafites com cruzes.
Encontramos, conta d’Andria, banheiras de água para imersão individual para os peregrinos enfermos, que após venerarem o túmulo, eram submersos nessas banheiras, como é feito em Lourdes.
Mas a confirmação principal, eu diria matemática, que atesta sem sombra de dúvida que aquela construção é a tumba de São Filipe, vem de um pequeno objeto que está no museu de Richmond, nos EUA, acrescenta.
É um selo de bronze usado para autenticar o pão de São Filipe para distribuir aos peregrinos.
Foram encontrados ícones representando São Filipe com um grande pão na mão.
E este pão, para o distinguir do pão comum, era marcado com aquele selo para que os peregrinos soubessem que se tratava de um pão especial, para ser conservado com devoção.
Nesse selo existem imagens.
Há a figura de um santo e uma inscrição que diz “São Filipe”. Todos os especialistas disseram que veio de Hierápolis.
A figura do santo é apresentada entre dois edifícios: o da esquerda é coberto por uma cúpula, e representa o Martyrion octogonal.
Selo do pão de São Filipe em Hierápolis
O da direita do santo tem cobertura de duas águas como a da igreja com três naves que agora descobrimos.
Parece certamente uma representação feita no século VI do então existente complexo em torno do túmulo de São Filipe.
Portanto, naquele selo é indicado que o túmulo estava na basílica e não no Martyrion.
Concluímos uma obra iniciada há 55 anos.
Tive a honra de apresentar a descoberta na Pontifícia Academia Arqueológica de Roma, perante estudiosos e representantes do Vaticano.
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