segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Incógnitas na liquefação do sangue de San Gennaro ( São Januário)

O sangue de São Januário liquefeito
O sangue de São Januário liquefeito
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







O milagre da liquefação do sangue do mártir São Januário (ou San Gennaro em italiano) acontece quase todo ano em duas datas principais.

A primeira data da liquefação anual é o sábado que precede o primeiro domingo de maio, festa da translação das relíquias do santo a Nápoles.

A segunda é o dia 19 setembro, festa litúrgica do aniversário do martírio do bispo São Januário. Nas duas datas o sangue se dissolve também nos sete dias sucessivos, segundo relatou “Il Fatto Quotidiano”.

A relação com eventos nefastos é feita pelos fiéis quando não há liquefação do sangue em alguma dessas duas datas. A Igreja não adota nenhuma interpretação, mas deixa correr as suposições piedosas, e até agora não declarou o prodígio como "milagre".

Porém, para pasmo de todos, a liquefação acontece também em datas aleatórias, como 16 dezembro, dia em que no ano 1631 impetuosas torrentes de lava do Vesúvio desciam rumo à cidade de Nápoles, com força para destruí-la como outrora Pompeia e Herculanum.

Os napolitanos confiaram sua vida e sua cidade a São Januário e levaram o artístico busto que contém o crânio e relíquias do santo em procissão pelas ruas. A lava então parou inexplicavelmente na orla da cidade que foi salva.

A média é de 17 liquefações por ano e desde 1389 até hoje foram registradas cerca de 10 mil, sendo verossímil que houve muitas outras não anotadas, explicou um cientista convocado a estudar o caso.

O sangue de São Januário não-liquefeito, sólido
O sangue de San Gennaro não-liquefeito, sólido
O fenômeno da liquefação se repete há séculos, porém o primeiro documento escrito remonta ao 17 de agosto de 1389.

Nele está escrito: “foi feita uma solene procissão em que por milagre, Jesus Cristo Senhor Nosso mostrou seu poder no sangue do beato Januário, que estava numa ampola e se liquefez, como se tivesse saído nesse dia do próprio corpo do Beato”.

O santo foi bispo de Benevento e o imperador Diocleciano mandou decapitá-lo, crime acontecido no dia 19 setembro do ano 305. Durante a execução, uma mulher nobre de nome Eusébia recolheu em duas ampolas o sangue do mártir que ocultou dos carrascos.

Em 1988 o Cardeal Michele Giordano, arcebispo de Nápoles, pediu ao cientista Pierluigi Baima Bollone, professor de Medicina Legal na Universidade de Turim, que tinha uma longa experiência estudando o Santo Sudário, que examinasse com o mesmo rigor científico o sangue de San Gennaro, continua “Il Fatto Quotidiano”.


O cientista realizou uma espectroscopia – técnica que emprega a radiação a fim obter dados da estrutura e das propriedades da matéria – aplicando a câmera sobre a ampola com o sangue do padroeiro napolitano, quando estava em estado fluido.

O resultado fez emergir a presença da hemoglobina – proteína presente nos glóbulos vermelhos que é a responsável pela coloração vermelha do sangue – e os subprodutos de sua degradação.

“Este resultado – afirmou Baima Bollone – não prova com certeza absoluta a presença de sangue, mas leva razoavelmente a excluir que se trate de uma matéria de outra natureza.

“Todas essas constatações convergem para a conclusão de que o evento de San Januário acontece sobre matéria certamente humana”.

Não é bem difundido, mas a liquefação de sangue de mártires católicos é mais frequente do que se conhece comumente.

Há o caso do sangue de São Pantaleão (fim do século III), conservado por séculos na Itália e que se torna líquido anualmente a 27 de julho.

Também uma parte desse sangue que outrora foi levado ao Real Mosteiro da Encarnação de Madri, Espanha, se liquefaz no mesmo dia 27 de julho

Pierluigi Baima Bollone, professor de Medicina Legal na Universidade de Turim
Pierluigi Baima Bollone, professor de Medicina Legal
na Universidade de Turim
O Prof. Baima Bollone sublinhou ainda a pasmosa estatística da “média de 17 liquefações por ano, desde 1389 até hoje ocorreram cerca de 10 mil”, e que elas aconteceram “em locais, em condições ambientais e em climas culturais, até muito diferentes”.

O prof. Baima Bollone também especificou que não parece haver um fator natural constante como a temperatura ambiente ou o horário ou algum ponto de fluidificação definido no conteúdo da ampola.

O derretimento pode acontecer em um ambiente no qual a temperatura varia de 30 graus nos meses quentes a 5-6 graus nos dias frios.

Não há nem mesmo uma relação entre a temperatura e a velocidade da mudança de estado, que é muito diferente de uma liquefação para outra.

O grau de fluidificação se manifesta sem regras. De fato, em alguns casos, o líquido derretido flui como água, enquanto em outros é pastoso, viscoso e quase borrachento.

Às vezes, contém o chamado “globo”, uma porção de substância que não é completamente liquefeita.

A cor também varia, passando de preto a vermelho-escuro, ora vermelho-vivo ora vermelho-amarelado.

O volume também muda e parece dobrar, e muitas vezes forma espuma.

Finalmente, o peso muda com uma oscilação de até trinta gramas, em alguns casos até em relação inversa às variações de volume: aumenta esse e diminuiu o peso, e vice-versa.

“Tudo isso – explicou Baima Bollone – escapa a qualquer explicação científica possível”.

Mais cientistas confessam incapacidade da ciência diante do prodígio

A análise espectroscópica do Prof. Baime Bollone em 1989 concordou com a primeira análise similar de 25 de setembro de 1902 feita pelos professores Sperindeo e Januario (Ferdinando Grassi, I Pastori della Cattedra Beneventana, Auxiliatrix 1969, pag. 13, apud UCCR)

Em fevereiro de 2010, o Departamento de Biologia Molecular da Universidade Federico II de Nápoles, guiado pelo professor Giuseppe Geraci, demonstrou definitivamente a presença de sangue humano dentro da ampola San Gennaro.

Após quatro anos de intensas pesquisas, o biólogo afirmou: “apliquei o máximo rigor científico a um acontecimento considerado absolutamente metafísico, inexplicável”.

E após centenas de observações e levantamentos, chegou a uma confirmação substancial da posição do professor Baima Bollone e sua análise espectroscópica.

O Cardeal Sepe exibe o sangue de San Januário liquefeito
O Cardeal Sepe exibe o sangue de San Januário liquefeito
O professor Geraci teve a disposição uma ampola semelhante à de San Gennaro, proveniente do Eremo dei Camaldoli do século XVII e que submeteu a vários testes.

Geraci concluiu que “quanto a San Januário, não há dados científicos unívocos que expliquem por que essas mudanças ocorrem.

“Não basta atribuir ao movimento a capacidade de dissolver o sangue, o líquido muda de estado por motivos ainda a serem identificados” (Il Mattino di Napoli, 5/2/10, apud UCCR)

O prof. Geraci apresentou suas conclusões à Academia Nacional de Ciências física e matemática presidida em Nápoles pelo reitor Guido Trombetti e um congresso de altos cientistas.

Nela, o biólogo Geraci voltou a reconhecer a incapacidade da ciência para desvendar o evento: “não sabemos em que circunstâncias o sangue da ampola de San Januário passa de sólido para líquido e vice-versa” (Il Levante, 9/5/10, apud UCCR).

E voltou a sublinhar “na liquefação do sangue de San Gennaro permanece o mistério de que em alguns casos o sangue permanece sólido e em outros se dissolve sem intervenção externa”.

A posição do biólogo Gerasi foi reforçada pelo matemático Guido Trombetti, Presidente da Academia de Ciências Matemáticas e Físicas, e ex-Presidente da Conferência de Reitores das Universidades Italianas.

Ele disse: “no caso guardado na catedral certamente há sangue humano... devemos parar com a alegada superioridade intelectual da posição dos não crentes sobre a dos crentes” (Il Messaggero, 7/2/10, apud UCCR)

Por muito tempo aqueles, mesmo entre os cientistas, que alegaram a falsidade do milagre de San Gennaro, tentaram explicar o prodígio pelas repetidas oscilações da caixa contendo o sangue feito pelos eclesiásticos responsáveis. Essa suposição ficou afastada nos testes.

Por vezes esses movem a ampola com o sangue para evidenciar ante os fiéis se se deu a liquefação ou se se mantém sólido.

Busto de San Gennaro, catedral de Nápoles conserva o cránio e ossos do mártir
Busto de San Gennaro, catedral de Nápoles
conserva o crânio e ossos do mártir
A não dissolução que houve neste último caso como em anos anteriores em dezembro 2020 malgrado a movimentação, mostra que essa suposição é absolutamente falsa.

Na verdade, a oscilação do relicário não desencadeia a liquefação do sangue.

Nos últimos anos quando foi aberto o cofre que continha o relicário com a relíquia, nas duas datas principais, em maio e em setembro, o sangue já estava completamente dissolvido, sem ter sido sujeito a qualquer movimentação.

A última não-liquefação de 16 dezembro se caracterizou, como sempre, com uma expectativa popular bem menor e a ausência habitual dos altos eclesiásticos da arquidiocese.

Entrementes, aquilo que “Il Mattino”, o principal jornal de Nápoles e maior do sul da Itália, qualificou de “terrível 2020” suscitou temores alimentados pelo espetáculo deplorável da pandemia universal.

“Se há alguma coisa que deve se derreter, é o coração do homem” disse o pároco de Santa Maria Assunta na catedral de Nápoles, Mons. Vincenzo Papa, em referência a uma necessidade de profunda conversão.

Aliás, é o que Nossa Senhora vem pedindo em Fátima e La Salette há mais de um século.

Infelizmente vem encontrando os ouvidos endurecidos à graça diante da perspectiva de tremendos castigos de que a atual pandemia parece ser um início.


2 comentários:

  1. Parabéns sempre por todas as matérias!!!
    Adoro lê-las!!!
    Att

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  2. Gloria Á Deus, com certeza nosso Santo está às portas!!!!

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