terça-feira, 16 de março de 2021

A pista de dança onde se decidiu a morte de São João Batista

Decapitação de São João Batista, Rogier van der Weyden (1400 — 1464)
Decapitação de São João Batista, Rogier van der Weyden (1400 — 1464)
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




Acredita-se que uma espécie de maldição paira nos locais onde se cometeram crimes horrendos. Mas onde santos sacrificaram sua vida por Cristo e sua Igreja pousa um imponderável bom comparável a uma presença angélica.

Essa realidade sutil mas sobrenatural conferiu um interesse especial à descoberta da pista de dança onde São João Batista foi sentenciado à morte por volta de 29 d.C., segundo os arqueólogos.

Os Evangelhos e o historiador hebreu Flávio Josefo (37-100 d.C.) descrevem, cada um do seu ponto de vista, como o rei Herodes Antipas, filho do rei Herodes o Grande, decidiu decapitar a São João Batista.

O historiador judeu especificou que a execução ocorreu em Machaerus (ou Maquero), um forte perto do Mar Morto, na Jordânia dos dias modernos, informou Live Science.

Os Evangelhos não especificam o local material.

“17. O próprio Herodes mandara prender João e acorrentá-lo no cárcere, por causa de Herodíades, mulher de seu irmão Filipe, com a qual ele se tinha casado.

“18. João tinha dito a Herodes: “Não te é permitido ter a mulher de teu irmão”.

“19. Por isso, Herodíades o odiava e queria matá-lo, não o conseguindo, porém. (...)

“21. Chegou, porém, um dia favorável em que Herodes, por ocasião do seu natalício, deu um banquete aos grandes de sua corte, aos seus oficiais e aos principais da Galileia.

“22. A filha de Herodíades apresentou-se e pôs-se a dançar, com grande satisfação de Herodes e dos seus convivas. Disse o rei à moça: “Pede-me o que quiseres, e eu to darei”.

“23. E jurou-lhe: “Tudo o que me pedires te darei, ainda que seja a metade do meu reino”.

“24. Ela saiu e perguntou à sua mãe: “Que hei de pedir?”. E a mãe respondeu: “A cabeça de João Batista”.

São João Batista, Taddeo di Bartolo, 1362-1422), J Paul Getty Museum
São João Batista, Taddeo di Bartolo,
(1362-1422), J Paul Getty Museum
“25. Tornando logo a entrar apressadamente à presença do rei, exprimiu-lhe seu desejo: “Quero que sem demora me dês a cabeça de João Batista”.

“26. O rei entristeceu-se; todavia, por causa da sua promessa e dos convivas, não quis recusar.

“27. Sem tardar, enviou um carrasco com a ordem de trazer a cabeça de João. Ele foi, decapitou João no cárcere,

“28. trouxe a sua cabeça num prato e a deu à moça, e esta a entregou à sua mãe." (São Marcos, 6 – 17-28)
Para Josefo, Herodes Antipas temia a crescente influência de João Batista entre a população, mas o respeitava pelo seu prestígio.

Acrescia que Herodes era um rei de fancaria como seus antecessor/es e seus sucessores do mesmo nome que menciona o Novo Testamento.

Eles eram odiados pelos judeus porque eram edomitas, quer dizer descendentes de Esaú, e foram “coroados” pela estrangeira Roma num artifício político.

A família real legítima era a estirpe de Davi cujo último príncipe herdeiro foi São José. Mas os judeus do tempo não o reconheciam e preferiam suportar a detestada linhagem dos Herodes.

Herodes o Grande, o primeiro deles, construiu um faustoso palácio junto ao Templo. Mas temia tanto a cólera dos judeus que o abandonou e construiu para si palácios-fortalezas afastados de Jerusalém onde podia se entregar a uma vida licenciosa copiada dos gregos e romanos.

Pôncio Pilatos era cônsul romano com comando sobre as tropas imperiais. Nesses casos, os romanos montavam seus castros – nome de seus quarteis – afastados das cidades para não terem problemas com a população.

Pilatos aproveitou para instalar seu pretório – equivalente a uma governação – no palácio herodiano abandonado. A Paixão de Cristo, sua Flagelação e iniqua Condenação aconteceram então na residência de Herodes o Grande.

Desde do palácio-fortaleza de Machaerus, Antipas governava um reino que incluía a Galileia e parte do Jordão.

Reconstituição virtual do pátio de Macharerus onde Salomé dançou pela morte de São João Batista. Credit Győző Vörös
Reconstituição virtual do pátio de Macharerus onde Salomé dançou pela morte de São João Batista.
Image credit Győző Vörös
O incitamento ao assassinato de São Joao Batista aconteceu numa festa no pátio aberto desse palácio afastado de Jerusalém.

No local, o rei de costumes pagãos e impuros reunia sua corte. Naquele dia assistia à festa de seu aniversário em um trono rodeado dos cortesãos ante os quais se apresentou para dançar Salomé, filha de Herodíades, a esposa adúltera de Antipas.

O ódio de Herodíades devia-se a que o profeta da integridade moral repudiou publicamente a união com Antipas com quem contraíra um casamento ilícito e pecaminoso.

Assim escreveu Győző Vörös, diretor do projeto Escavações e Pesquisas de Machaerus no Mar Morto, no livro “Terra Santa Arqueologia em ambos os lados: Ensaios arqueológicos em homenagem a Eugenio Alliata” (Fondazione Terra Santa, 2020).

O pátio da festa, disse Vörös, tem um nicho em forma de abside que são os restos do trono onde Herodes Antipas estava sentado fruindo das homenagens.

Reconstituição virtual da cidadela de Macharerus. Image credit Győző Vörös
Reconstituição virtual da cidadela de Macharerus. Image credit Győző Vörös
O pátio de Machaerus foi descoberto em 1980, mas só agora foi identificado o nicho do trono de Herodes Antipas, fato que solidifica as conclusões sobre a pista de dança, escreveu Vörös.

A equipe arqueológica está reconstruindo o pátio e publicou imagens virtuais mostrando como era na época da degola do profeta que batizou a Jesus, do qual era, aliás, seu primo.

O nicho encontrado em Machaerus parece pequeno em comparação com o trono de seu pai, o rei Herodes autor de prédios megalomaníacos, no palácio de inverno de Jericó,

Segundo Jodi Magness, professor de religião na Universidade de Carolina do Norte em Chapel Hill o nicho em Machaerus parece com outros dois encontrados no Alto Heródio, um palácio-fortaleza construído pelo primeiro rei Herodes.

Ali a sensualidade da dança incitou a um dos piores crimes religiosos da História.


Um comentário:

  1. AMÉM! AMÉM! DEUS ABENÇOA A TODOS! OBRIGADO PELO VOSSO TRABALHO.

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