segunda-feira, 29 de março de 2021

A púrpura real desde Davi e Salomão até Cristo e a Igreja

Fibras de tecido tingidas com púrpura 1,000 anos antes de Cristo, descoberta no vale de Timna, Israel, (Foto Dafna Gazit, Israel Antiquities Authority)
Fibras de tecido tingidas com púrpura 1,000 anos antes de Cristo,
descoberta no vale de Timna, Israel, (Foto: Dafna Gazit, Israel Antiquities Authority)
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







O que é que pode se dizer – além da importância histórica e arqueológica – dos restos de tecidos tingidos com púrpura real encontrados em escavações no Vale do Timna, Israel, nas famosas Minas de Cobre do Rei Salomão?

Eles teriam cerca de 3.000 anos, portanto, são da era dos Reis Davi e Salomão, noticiou entre outros “Clarín”.

Davi é o fundador da estirpe na qual nasceu Jesus Cristo, como ensinam os Evangelhos. Esse rei, também tratado como São Davi, em certo momento pecou. Mas fez uma penitência exemplar cujos gemidos a Igreja faz seus nos Salmos de sua autoria, soprados pelo Espírito Santo.

Variedades de murex das costas de Israeli quue fornecem a púrpura Spiny Dye-Murex (Murex brandaris), Banded Dye-Murex (Murex trunculus), and Red-Mouthed Rock-shell (Murex haemastoma) (Shachar Cohen, courtesy of Zohar Amar)
Variedades de murex das costas de Israel que fornecem a púrpura:
Spiny Dye-Murex (Murex brandaris), Banded Dye-Murex (Murex trunculus),
e Red-Mouthed Rock-shell (Murex haemastoma) (Shachar Cohen, cortesia de Zohar Amar)
O rei Salomão foi sucessor de Davi e um filho amado de Deus. A Ele o Criador inspirou a construção do Templo de Jerusalém, uma das maravilhas da Antiguidade e o único templo em que se podia celebrar o sacrifício verdadeiro, prefigura da Santa Missa.

Deus lhe ensinou as dimensões e proporções desse Templo, prefigura mística da Santa Igreja, e Salomão o erigiu com uma sabedoria e um luxo incomparável.

Infelizmente também Salomão pecou. Mas, não fez penitência e morreu mal.

Seu nome ficou associado ao Templo mas a punição de Deus pela ingratidão a tantas graças, trouxe a divisão do povo eleito em dois reinados.

Esses nunca voltaram se unir até a vinda de Cristo, o legítimo herdeiro do trono de Davi, como mostram as genealogias de Jesus contidas nos Evangelhos de São Mateus e São Lucas.

Quando apareceu o Messias prometido, o povo judeu o recebeu com fortes áreas de frieza quando deveria tê-lo aclamado como o fez episodicamente no Domingo de Ramos. Por fim o crucificou.

Sagração de David como rei por Samuel. David usa um manto de púrpura. Dura Europos Synagogue, Syria, siglo III (public domain)
Sagração de David como rei por Samuel. David usa um manto de púrpura.
Dura Europos Synagogue, Síria, século III (domínio público)
Mas Ele ressuscitou e ascendeu aos Céus tendo deixado um Vigário na Terra: São Pedro, quem por sua vez foi continuado por uma longa série de Papas durante dois milênios que irá até o Fim do Mundo.

Há cores associadas a grupos, associações ou povos. Mas nenhuma quanto a cor púrpura exprime tão bem a majestade real da linhagem – que São Mateus mostra desde Abraão, e São Lucas desde Adão – institucionalizada no rei Davi, passando por Jesus Cristo no auge da Paixão, pelos Papas Cardeais e bispos.

O achado destes fragmentos tingidos pela púrpura que usavam Davi e Salomão nos evoca essa magnífica hereditariedade monárquica da Igreja. A bem dizer ressalta a monarquia universal do Papado, porque é de origem divino, ainda nas épocas difíceis que vivemos.

O que é a púrpura?


A púrpura é um corante tirado de moluscos do Mediterrâneo. Os fragmentos agora achados constituem a primeira vez que foram recuperados em Israel tecidos tingidos na Idade do Ferro. O relato completo foi publicado na PLoS ONE.

O Dr. Naama Sukenik, curador de descobertas orgânicas na Autoridade de Antiguidades de Israel disse ser “a primeira peça de tecido encontrada da época de Davi e Salomão tingida com a prestigiosa tintura roxa”.

Miniatura medieval apresenta David em oração, com túnica púrpura e manto 'bleu des rois'. University of California - Berkeley
Miniatura medieval apresenta David em oração,
com túnica púrpura e manto 'bleu des rois'.
University of California - Berkeley
“Nos tempos antigos, a púrpura era associada à nobreza, aos sacerdotes e à realeza.

“Seu belo tom, o fato de não desbotar e a dificuldade da produção do corante que se encontra em diminutas quantidades nos moluscos, tornavam-no mais valorizado, muitas vezes custando mais que ouro”, acrescentou o Dr. Sukenik.
E comemora que “agora, pela primeira vez, temos evidências diretas dos próprios tecidos tingidos, preservados por cerca de 3.000 anos”.

O professor Erez Ben-Yosef, do Departamento de Arqueologia da Universidade de Tel Aviv, conta que Timna tem um “clima extremamente seco que permitiu a conservação de materiais orgânicos como tecidos, cordas e couro da época de Davi e Salomão, dando-nos uma visão única da vida nos tempos bíblicos”.

Timna era um centro de produção de cobre, o equivalente econômico ao petróleo de hoje.

Na Colina dos Escravos numa pilha de resíduos industriais havia três pedaços de tecido colorido. “Foi difícil acreditar que havíamos encontrado um verdadeiro roxo de uma época tão antiga”, explica Ben-Yosef.

Variedades


A verdadeira púrpura foi produzida a partir de três espécies de moluscos nativos do Mar Mediterrâneo: murex (Hexaplex trunculus), Poirieria zelandica (Bolinus brandaris) e Stramonita haemastoma.

Os dois tons mais prezados, roxo (argaman) e azul claro, ou azul (tekhelet), foram produzidos a partir do molusco sob diferentes condições de exposição à luz.

Essas cores são mencionadas em fontes antigas e ambas têm significado simbólico e religioso até hoje.

Os sacerdotes do Templo, Davi, Salomão, Jesus aparecem nas Escrituras vestindo mantos roxos. Esta pequena descoberta confirma mais uma vez o que está escrito nos livros sagrados, mas que não tinham confirmação material

Os testes nos laboratórios da Universidade de Bar Ilan e os corantes refeitos pelo Professor Zohar Amar e pelo Dr. Sukenik, permitem identificar as espécies utilizadas.

A cor real e imperial por excelência


Coroa de Santo Eduardo usada na coroação dos reis ingleses a púrpura no centro
Coroa de Santo Eduardo usada na coroação dos reis ingleses:
a púrpura no centro
O roxo usado pelos magistrados romanos tornou-se a cor imperial.

Na Roma antiga só o imperador tinha o direito de a usar. O imperador Nero puniu com a morte o uso da púrpura aos não imperadores, tão rara era naquela época, registra Wikipedia.

Foi herdada pelos governantes do Império Bizantino e do Sacro Império Romano e, mais tarde, pelos altos eclesiásticos católicos romanos.

No Japão, a cor também é tradicionalmente associada ao imperador e à aristocracia, como símbolo de riqueza e distinção.

A mais prezada variante foi a chamada “púrpura de Tiro” que provinha da cidade de Sidon, e tinha cor de ametista.

Importância na dinastia real hebreia


De acordo com o Dr. Sukenik “a maioria dos tecidos coloridos encontrados na pesquisa arqueológica em geral, foram tingidos com corantes vegetais fáceis de obter. Os corantes de origem marítimo eram muito mais prestigiosos e indicavam a elevação econômica e social do usuário”.

Em um dos fragmentos foram utilizadas duas espécies de moluscos. Requer uma arte refinada descrita pelo historiador romano Plínio, o Velho, do século I d.C., e rende uma tinta de maior prestígio.

Timna fazia parte do reino de Edom, fundado pelos descendentes de Esaú, na fronteira sul do reino de Israel. Segundo Sukenik, “havia uma elite em Timna, atestando uma sociedade hierarquizada que mantinha relações comerciais com povos da costa”.

Ele observa que nós “temos dificuldade em imaginar reis sem magníficos palácios de pedra ou cidades muradas. No entanto, os nômades podem criar uma estrutura sócio-política que os escritores bíblicos poderiam identificar como um reino”.

“As tribos de Israel eram originalmente nômades (...) Arqueólogos procuram o palácio do rei Davi, mas é possível que Davi não expressasse sua riqueza em prédios esplêndidos, mas com objetos mais típicos de uma herança nômade, como tecidos e artefatos”.
Cardeal Pacelli, futuro Papa Pio XII com a Cappa Magna purpúrea
Cardeal Pacelli, futuro Papa Pio XII com a Cappa Magna purpúrea
O verdadeiro corante roxo “argaman” e sua variante azul “techelet” são mencionados dezenas de vezes na Bíblia e no Cilindro de Senaqueribe de perto de 690 a.C., entre outros textos.

O verdadeiro roxo associado à realeza e ao sacerdócio era usado no Tabernáculo e no Templo Judaico, registrou o “Times of Israel”.

“Suponho que se espiássemos dentro do armário de David e Salomão veríamos roupas semelhantes – e talvez ainda mais roxas verdadeiras”, disse Sukenik.

Importância para a Igreja


Capa púrpura de um cardeal
Capa púrpura de um cardeal
Os cardeais – príncipes herdeiros do Papa – usam a púrpura há séculos para darem a entender o desejo de levarem o sacrifício pela Igreja Católica até a morte.

A atitude simbolizada com essa cor manifesta uma tal confiança do Papa, que os homens que a usam presidem as Congregações Romanas como conselheiros e ministros do sucessor de Pedro, ou como bispos de dioceses de grande peso.

Por isso, os cardeais também são os eleitores do Papa. Se compreende que façam o voto do martírio homens assim ligados ao Papado.

Pois na Igreja Católica, a púrpura simboliza a determinação de dar a vida pelo Papa se for necessário. E daí que a púrpura deve revesti-los por inteiro.

A púrpura cardinalícia herda o fausto do imperador romano.

Simbolismo de dar a vida pelo Papado e pela Igreja


Os carrascos de Cristo lhe impuseram uma capa purpúrea para escarnece-lo. A capa embebida do sangue divino passou a ser a mais valiosa da História
Os carrascos de Cristo lhe impuseram uma capa purpúrea para escarnece-lo.
A capa embebida do sangue divino passou a ser a mais valiosa da História
Porém, muito mais disso, a púrpura simboliza a disposição de imitar a Jesus Cristo até na cena infamante da Flagelação em que os torturadores lhe colocaram uma veste purpúrea para escarnece-lo como rei de fancaria.

Viver com o espírito que Ele externou quando flagelado, coroado de espinhos, debochado pela soldadesca, olhando de frente as dores da Crucificação que Ele sabia que viria, enquanto o consumiam as dores das chicotadas em todo o seu corpo, os escarros e as injúrias.

Nessa hora, a narração evangélica nos deixa sentir uma distensão e uma mansidão perfeitas próprias de uma dignidade de Rei.

Nunca rei algum teve uma púrpura igual à dEle: a púrpura tingida pelo seu sangue infinitamente precioso! 



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