Igreja católica de Megido, uma das mais antigas do mundo, como foi achada |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Ficou em exibição em Washington (no Museum of the Bible até julho 2025) o maior objeto arqueológico bíblico depois dos Manuscritos do Mar Morto pela sua antiguidade e relevância, informou o blog Thyself, O Lord.
Trata-se de mosaicos dos primeiros séculos descobertos durante os trabalhos dos prisioneiros em Megido, perto da Galileia, Israel. No local onde foram dar com os mosaicos há atualmente uma prisão de segurança máxima.
Eles faziam parte de uma casa ou local de culto cristão no ano 230 d.C. aproximadamente, mais de cem anos antes do imperador romano Constantino dar liberdade o cristianismo. Portanto em época de perseguições e martírios.
No mosaico se pode ler:
“Akeptous, adorador de Deus, ofereceu a mesa a Deus Jesus Cristo como um memorial”.
Os especialistas sublinham que na inscrição há três coisas extremamente significativas:
1º) Jesus Cristo é reconhecido como Deus;
2º) Foi erguido um altar para cultuar a Cristo;
3º) Já havia romanos que adoravam Jesus Cristo, posto que no local havia uma instalação de soldados romanos na época do mosaico.
Segundo a revista especializada “Biblical Archeaeology”, o mosaico foi descoberto quando se procedia a uma escavação em Kfar Othnay, antigo assentamento da era romana e bizantina descoberto dentro do terreno da moderna prisão israelense de Megido.
O mosaico exposto |
Este salão constituía uma ala de um grande edifício residencial usado pela Sexta Legião Encouraçada estacionada no acampamento militar próximo de Legio.
É o primeiro monumento conhecido em Israel dedicado ao culto cristão. Arqueólogos da Autoridade de Antiguidades de Israel (IAA) exploraram o assentamento rural de Kfar Othnay entre 2003 e 2005.
O trabalho feito em parceria com a IAA, foi apresentado em The Megiddo Mosaic: Foundations of Faith. Ele destaca três inscrições gregas que aparecem no mosaico ao lado de muitos motivos decorativos e figurativos.
Essas inscrições reconhecem sete pessoas por seus papéis benéficos na igreja local. Cinco eram mulheres, confirmando sua importância nesta comunidade cristã primitiva.
Uma inscrição reconhece uma mulher chamada Akeptous e contém as palavras abreviadas “Deus Jesus Cristo” — uma afirmação inicial da divindade de Jesus, oficialmente consagrada pelas autoridades da Igreja Católica um século depois.
Especialistas limparam e conservaram o mosaico antes de transportá-lo para Washington, e depois será exposto num espaço especial perto do local original, na vizinhança de Megido.
As inscrições estão em grego, língua culta na época |
A datação baseia-se em vários vestígios, que incluem moedas da época, pedaços de barro de objetos de cerâmica e inscrições que sugerem o ano 230 d.C.
Nesse caso teria pertencido à sala de oração cristã mais antiga já encontrada, segundo Wikipedia.
O piso foi cuidadosamente escondido durante a grande perseguição às primeiras comunidades cristãs da Judeia empreendida pelo imperador romano Diocleciano por volta do ano em 303 d.C.
O local foi identificado em 2005 pelo arqueólogo israelita Yotam Tepper da Universidade de Tel Aviv. Segundo outra versão a descoberta teria sido feita por um recluso da prisão adjacente de Megido.
O local foi escavado e limpo por reclusos do referido presídio militar, e atraiu desde o início muitas manchetes da imprensa da época.
Após um minucioso processo de datação que levou ao século III; concluiu-se que foi feito por fiéis do local durante algum período de tranquilidade, suficiente para desenvolver objetos de arte sacra.
Portanto, a igreja foi anterior aos tempos turbulentos da segunda metade do século.
O mosaico de 54 m² está em muito bom estado e reúne textos, figuras geométricas e representações de peixes, típico dos primeiros cristãos.
É composto por quatro painéis, um de cada lado do que deve ter sido um altar, hoje desaparecido, rodeados por tesselas (peças quadradas ou cúbicas que podem ser utilizadas para revestir pavimentos, mosaicos ou marqueteria) monocromáticas decoradas com rosetas e mosaicos de losangos, e delimitados por molduras de formas entrelaçadas.
Os textos estão escritos em grego antigo e, segundo a própria peça, o artista da obra foi um certo Brutius.
Imagem aérea do mosaico dos primeiros séculos com a inscrição 'Jesus Cristo é Deus' |
Uma terceira está no painel norte, e apresenta um octógono rodeado por quadrados separados por losangos e triângulos, e formas que incluem um traste (meandro grego), um escudo, duas luas, uma flor, um tabuleiro de xadrez e, ao centro, um prisma “tridimensional” que encerra um medalhão com imagens dos dois peixes, possivelmente um robalo e um atum.
No centro da superfície, ao pé do que parece ter sido um arco, existem duas pedras retangulares que se acredita terem sido duas das pernas do trapézio.
A inscrição no topo do painel norte é dedicada a Gaiano, o centurião que pagou pela criação do piso de mosaico:
“Gaiano, também chamado Porfírio, centurião, nosso irmão e dignitário, fez com que este terreno fosse feito às suas próprias custas como um ato de liberalidade. O Brucio realizou [realizou/concluiu] o trabalho”.
A inscrição no lado oeste do painel sul é dedicada a “Akeptous, que ama a Deus... e ofereceu o altar a Jesus Cristo Deus como memorial [ou lembrança/homenagem]”.
Vista aérea do sitio arqueológico de Megido |
A localização do altar coincide com a disposição de restos de mesas semelhantes nas igrejas do Norte de África, sugerindo que a Missa era celebrada nos séculos III-IV no meio da congregação de fiéis, e não numa parte de o santuário reservado ao clero.
Do ponto de vista teológico, a descoberta confirma que Jesus Cristo era adorado como Deus desde os primórdios da religião católica, desfazendo confusões progressistas modernas ao respeito.
A abreviatura do nome de Jesus Cristo, que usa a primeira e as últimas letras do nome designando-o como um nome sagrado, e a evidência mais antiga desta prática mais conhecida em épocas posteriores, e usada para desnortear aos pagãos nos tempos das perseguições.
O nome do doador Akeptous não permite reconhecer com certeza a quem se refere. O nome poderia ser um derivado do latim Acceptus, e então se referir a um escravo.. Isso seria possível considerando que o salão é uma adaptação de uma habitação humilde preexistente.
No lado oposto do mesmo painel há a chamada “Inscrição Feminina” porque evoca a memória de “Primilla, Cyriaca e Dorothea, e também de Chreste”.
Estas quatro mulheres, do modo que são nomeadas, poderiam ter sido mártires da comunidade primitiva. A disposição dos painéis de mosaico, confrontando as inscrições das mulheres com as dos homens, sugeree que no cristianismo primitivo, homens e mulheres sentavam-se em lados opostos da igreja durante os eventos religiosos, costume que perdurou até antes da reforma litúrgica do Concilio Vaticano II.
Se se confirma que o mosaico é do século III a igreja de Megido disputaria em antiguidade com a igreja doméstica de Dura Europos, situada no leste da Síria, às margens do Eufrates, num local que teria correspondido à província romana da Cele-Síria.
Dura Europos: fragmento de imagem da samaritana junto ao poço ou tal vez da Virgem Maria |
Nessa casa síria, foram recuperados valiosos objetos de culto religioso, como uma pia batismal e murais internos que representam cenas bíblicas do Antigo e do Novo Testamento.
Embora em ambos casos não se chegou a uma datação definitiva, considera-se certo que tenham sido residências particulares, tal vez antigas dependências romanas, que foram modificadas para uso religioso. Poderia se acrescentar a necessidade d sigilo em tempo de perseguição.
O antropólogo Joe Zias, ex-professor e curador do Departamento de Arqueologia e Antropologia da Autoridade de Antiguidades de Israel, defendeu a existência do edifício nas primeiras décadas do século III.
Casos análogos se deram com a igreja de Abu Mena, no Egito; os espaços subterrâneos da Basílica de São João e São Paulo, em Roma, que antes foram quartel romano entre os séculos I e III, e só foram igreja no final do século IV, embora uma igreja clandestina no século I.
Estas igrejas domésticas atendiam à necessidade de eludir as perseguições.
Na verdade, o edifício mais antigo que foi erguido como templo católico desde a sua concepção, do qual há evidências hoje, é a igreja de Aqaba, no sul da Jordânia, a dois quilômetros da fronteira com Israel.
Dita igreja foi construída em duas fases. A primeira remonta a por volta do ano 300 d.C. alguns anos antes da perseguição de Diocleciano.
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