segunda-feira, 6 de julho de 2020

Fim do mundo em mosaicos de antiquíssima sinagoga

Daniel vê quatro bestas representando quatro impérios prévios ao fim do mundo,
Apocalipse de Silos (1109), f.240 - British Library Add, MS 11695.
O mosaico de Huqoq está sendo preparado para presentação.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








Num post anterior – Sansão: monumental sinagoga confirma relatos bíblicos  – abordamos a história de Sansão a partir da descoberta de mosaicos que fizeram parte do chão de uma antiga grande sinagoga de 1.600 anos de antiguidade na cidade de Huqoq, na Galileia.

Dita sinagoga foi reaproveitada como igreja católica de rito greco-bizantino até que sobre ela foi feita uma cidade árabe, hoje em ruínas.

Os trabalhos de recuperação vêm acontecendo há anos e os frutos de fase de 2019 foram apresentados à imprensa pela arqueóloga Prof.a Jodi Magness da Universidade de Carolina do Norte em Chapel Hill, EUA, de acordo com as informações do jornal israelense “The Times of Israel”, , que adotamos como fonte principal neste post.

A professora ressaltou que está se pondo à luz uma verdadeira coleção artística de mosaicos de alto interesse.



A quantidade de dados colhida até o momento de assuntos centrais para este blog sobre confirmações da Igreja e da Sagrada Bíblia, nos impediu tratar de tudo no post passado.

Os mosaicos recuperados em 2019 incluem a mais antiga representação artística conhecida do Dilúvio e Noé, transcrita no livro do Êxodo.

A narração do dilúvio se encontra em todas as religiões ou conjuntos mitológicos estudados, inclusive entre os índios da Amazônia. Em cada religião/superstição identificada o relato aparece misturado com lendas e usa nomes deformados, mas a ideia central permanece.

 O dilúvio é assim o evento religioso mais largamente partilhado pela humanidade. Por isso é de uma historicidade de impossível contestação, postos de lados alguns aspectos colaterais sobre os quais ainda há debate-investigação.

As Escrituras são escrupulosamente fiéis à História

Outras cenas bíblicas representadas nos mosaicos de Huqoq são o Dilúvio e a arca de Noé; a construção da Torre de Babel; o oasis de Elim; os soldados do faraó sendo engolidos pelo Mar Vermelho e por dúzias de peixes; os primeiros enviados a Canaã; narradas nos livros do Gênesis e do Êxodo; além do fato do profeta Jonas com a baleia (no livro de Jonas).

Construção da Torre de Babel, mosaico da sinagoga de Huqoq, Galileia, Israel.
Construção da Torre de Babel, mosaico da sinagoga de Huqoq, Galileia, Israel.
Também uma cena representa o achado do oásis de Elim, narrado no Êxodo 15:27: “27. E chegaram a Elim, onde havia doze fontes de água e setenta palmeiras; e ali acamparam junto das águas”. (Êxodo, 15 -27)

No chão da sinagoga também há mosaicos históricos não bíblicos que incluem uma infinidade de temas seculares, inclusive um zodíaco, e uma representação do que é sem dúvida a primeira imagem puramente histórica numa sinagoga.

O episódio de Elim foi amplamente omitido na arte, e aconteceu logo após o povo eleito guiado por Moisés ter saído do Egito, antes de entrar no deserto. Elim é um oásis com 12 fontes de água e 70 tamareiras.

“Vemos grupos de tâmaras sendo colhidas por camponeses. (...) O registro do meio mostra uma fileira de poços alternando com as palmas das tâmaras.

“No lado esquerdo do painel, um homem de túnica curta carrega uma jarra de água e entra no portão em arco de uma cidade ladeada por torres com ameias”, disse Jodi Magness.

Uma inscrição acima do portão, confirma: “E eles vieram para Elim”.

Embora seja um fato menor, ele nos confirma da exatidão das Escrituras até nos pormenores, e neste caso de seu livro mais antigo.

As bestas do Livro de Daniel e o fim do mundo

Num outro mosaico parcialmente conservado estão representadas quatro bestas do Livro de Daniel que são sinais do fim dos tempos.

As bestas estão descritas no capítulo 7 do Livro de Daniel e são figuras concordantes com as do Apocalipse e do triunfo final de Cristo sobre o Anticristo.

1. No primeiro ano do reinado de Baltazar, rei da Babilônia, Daniel, estando em seu leito, teve um sonho e visões surgiram em seu espírito. Consignou por escrito esse sonho e a substância dos fatos.

2. Assim se manifestou: Via, no transcurso de minha visão noturna, os quatro ventos do céu precipitarem-se sobre o Grande Mar.

3. Surgiram das águas quatro grandes animais, diferentes uns dos outros.

4. O primeiro parecia-se com um leão, mas tinha asas de águia. Enquanto o olhava, suas asas foram-lhe arrancadas, foi levantado da terra e erguido sobre seus pés como um homem, e um coração humano lhe foi dado.

5. Apareceu em seguida outro animal semelhante a um urso; erguia-se sobre um lado e tinha à boca, entre seus dentes, três costelas. Diziam-lhe: “Vamos! Devora bastante carne!”.

6. Depois disso, vi um terceiro animal, idêntico a uma pantera, que tinha nas costas quatro asas de pássaro; tinha ele também quatro cabeças. O império lhe foi atribuído.

7. Finalmente, como eu contemplasse essas visões noturnas, vi um quarto animal, medonho, pavoroso e de uma força excepcional. Possuía enormes dentes de ferro; devorava, depois triturava e pisava aos pés o que sobrava. Ao contrário dos animais precedentes, ostentava dez chifres.

Juízo Final, rosácea da Sainte Chapelle, Paris
Juízo Final, rosácea da Sainte Chapelle, Paris
8. Como estivesse ocupado em observar esses chifres, eis que surgiu, entre eles outro chifre menor, e três dos primeiros foram arrancados para dar-lhe lugar. Este chifre tinha olhos idênticos aos olhos humanos e uma boca que proferia palavras arrogantes.

9. Continuei a olhar, até o momento em que foram colocados os tronos e um ancião chegou e se sentou. Brancas como a neve eram suas vestes, e tal como a pura lã era sua cabeleira; seu trono era feito de chamas, com rodas de fogo ardente.

10. Saído de diante dele, corria um rio de fogo. Milhares e milhares o serviam, dezenas de milhares o assistiam! O tribunal deu audiência e os livros foram abertos.

11. Olhei então, devido à balbúrdia causada pelos discursos arrogantes do chifre, olhei até o momento em que o animal foi morto, seu corpo subjugado e a fera jogada ao fogo.

12. Quanto aos outros animais, o domínio lhes foi igualmente retirado, mas a duração de sua vida foi fixada até um tempo e uma data.

13. Olhando sempre a visão noturna, vi um ser, semelhante ao filho do homem, vir sobre as nuvens do céu: dirigiu-se para o lado do ancião, diante de quem foi conduzido.

14. A ele foram dados império, glória e realeza, e todos os povos, todas as nações e os povos de todas as línguas serviram-no. Seu domínio será eterno; nunca cessará e o seu reino jamais será destruído.

15. Quanto a mim, Daniel, senti minha alma desfalecer dentro de mim, e fiquei perturbado por essas visões de meu espírito.

16. Aproximando-me de um dos assistentes, perguntei-lhe sobre a realidade de tudo isso. Respondeu-me dando a explicação seguinte:

17. “Esses grandes animais” – disse –, “em número de quatro, são quatro reis que se levantarão da terra.

18. Mas os santos do Altíssimo receberão a realeza e a conservarão por toda a eternidade”.

19. Quis então saber exatamente o que representava o quarto animal, diferente dos demais, pavoroso em extremo, cujos dentes eram de ferro e as garras de bronze, que devorava, depois triturava e calcava aos pés o que sobrava.

20. Quis ser informado sobre os dez chifres que tinha na cabeça, bem como a respeito desse outro chifre que havia surgido e diante do qual três chifres haviam caído, esse chifre que tinha olhos e uma boca que proferia palavras arrogantes, e parecia maior do que os outros.

21. Tinha visto esse chifre fazer guerra aos santos e levar-lhes vantagem, até o momento em que veio o ancião,

22. quando foi feita justiça aos santos do Altíssimo e quando lhes chegou a hora de obterem a realeza.

23. Ele me respondeu: “O quarto animal é um quarto reino terrestre, diferente de todos os demais, que devorará, calcará e aniquilará o mundo.

24. Os dez chifres indicam dez reis levantando-se nesse reino. Mas depois deles surgirá outro, diferente, que destronará três.

25. Proferirá insultos contra o Altíssimo, e formará o projeto de mudar os tempos e a Lei; e os santos serão entregues ao seu poder durante um tempo, tempos e metade de um tempo.

26. Mas o julgamento se realizará e lhe será arrancado seu domínio, para destruí-lo e suprimi-lo definitivamente.

27. A realeza, o império e a suserania de todos os reinos situados sob os céus serão devolvidos ao povo dos santos do Altíssimo, cujo reino é eterno e a quem todas as soberanias renderão seu tributo de obediência. (Daniel, 7, 1-27)

Jonas engolido pela baleia, mosaico da sinagoga de Huqoq, Galileia, Israel
Jonas engolido pela baleia, mosaico da sinagoga de Huqoq, Galileia, Israel
Numa inscrição em aramaico, embora fragmentada, pode se ler uma menção à primeira besta (cfr. 7:4): o leão com assas de águia.

“A imagem do leão não ficou preservada, tampouco a da terceira besta”, explicou Magness.

“Porém, a segunda besta de Daniel– um urso tinha à boca, entre seus dentes, três costelas – sim ficou. E também a maior parte da quarta besta, que é descrita em 7:7 com dentes de ferro,” acrescentou.

Segundo Magness o mosaico de Daniel revelador do ponto de vista escatológico, ou do fim do mundo, reflete as expectativas da comunidade a respeito”.

“Os mosaicos que decoram o chão da sinagoga de Huqoq revolucionam nossa compreensão do judaísmo neste período”, disse a arqueóloga em 2018.

“Costumava-se considerar anicônica ou sem imagens a arte judaica antiga.

“Mas esses mosaicos, coloridos e cheios de cenas figuradas, atestam uma rica cultura visual, bem como o dinamismo e a diversidade do judaísmo nos períodos tardio romano e bizantino”.

E acrescentamos nós, nos fornecem uma extraordinária prova de que as Escrituras católicas são perfeitamente fiéis aos ensinamentos dos livros e cátedras do povo eleito, contrariamente aos que dizem que teria havido algum desvio ou deturpação.

É de tirar o fôlego a analogia entre o Livro de Daniel que o profeta teria escrito por volta do século VI a.C. e que faz parte do Antigo Testamento, com o Apocalipse escrito por São João no fim do I século depois de Cristo, e que encerra a Bíblia.

Nosso Senhor Jesus Cristo mencionou a Daniel como sendo o autor segundo recolheu São Mateus em seu Evangelho (24:15).

O povo teria crenças mais corretas que as dos rabinos

Colheita de tâmaras no oasis de Elim.
Colheita de tâmaras no oasis de Elim.
Quando começaram as escavações em 2011 na relativamente bem preservada sinagoga, sob as ruínas de uma cidade árabe bem mais recente, a equipe não imaginava encontrar este tesouro.

A esperança de Magness consistia em encontrar os fundamentos e dados sobre a cronologia das sinagogas galileias no século IV d.C.

Desde o início começaram a achar mosaicos e o tesouro continua aumentando todo ano.

Foi uma enorme surpresa porque as únicas fontes escritas do judaísmo era a literatura rabínica de fontes judias ou referencias na literatura cristã.

Os rabinos que redigiam os textos escritos constituíam uma elite seleta e intelectualizada, mas não necessariamente transmitiam as crenças populares do povo hebraico.

Os escritos cristãos da época estão em polêmica com esses escritos, explicou a arqueóloga-chefe.

Huqoq, a equipe dos arqueólogos
Huqoq, a equipe dos arqueólogos
“Porém, desta maneira, a arqueologia preenche essa decalagem e lança luz sobre aspectos professados pelo judaísmo entre os séculos IV e VI d.C. sobre os quais nada saberíamos de outra maneira.

“Nossas descobertas indicam que o judaísmo continuou diverso e dinâmico muito tempo após a destruição do segundo templo de Jerusalém em 70 d.C.”, disse Magness.

Ela enfatizou que todos os mosaicos descobertos foram removidos para preservação e o vazio que ficou foi preenchido e que a escavação prosseguirá no verão de 2020.


Vídeos dos achados arqueológicos em Huqoq,
CLIQUE NAS FOTOS PARA VER


 No mosaico:  peixes tragam soldados do faraó no Mar Vermelho



No mosaico: Sansão derruba as colunas do templo dos filisteus




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