segunda-feira, 17 de agosto de 2020

O apocalíptico fim de Sodoma, segundo os arqueólogos

Lot e filhas fogem de Sodoma. John Martin (1789-1854), Wellcome Library no. 15821i
Ló e filhas fogem de Sodoma. John Martin (1789-1854), Wellcome Library no. 15821i
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Sodoma e Gomorra, juntamente com mais três cidades – Adama, Seboim e Bala – formavam a chamada Pentápolis.

A destruição delas foi sempre uma lição para a humanidade. Bala, também conhecida como Zóar ou Segor, onde se refugiou Ló e cuja localização não se conhece, teria sido perdoada nas condições indicadas pela Bíblia.

Mas muitas vezes esse perdão lhe foi recusado como uma fantasia exageradamente trágica.

E se a realidade superar em horror qualquer fantasia?

É o que apontam estudos que já levam anos na região suposta da Pentápolis, junto ao Mar Morto, feitos por equipes multidisciplinares de cientistas de diversas procedências.

“24. O Senhor fez então cair sobre Sodoma e Gomorra uma chuva de enxofre e de fogo, vinda do Senhor, do céu.

25. E destruiu essas cidades e toda a planície, assim como todos os habitantes das cidades e a vegetação do solo.

26. A mulher de Ló, tendo olhado para trás, transformou-se numa estátua de sal.

27. Abraão levantou-se muito cedo e foi ao lugar onde tinha estado antes com o Senhor. [Google maps: até 162 kms]

28. Voltando os olhos para o lado de Sodoma e Gomorra e sobre toda a extensão da planície, viu subir da terra um fumo espesso como a fumaça de uma grande fornalha.

29. Quando Deus destruiu as cidades da planície, lembrou-se de Abraão e livrou Ló do flagelo com que destruiu as cidades onde ele habitava." Gênesis, 19



Ubicação mais provável de Sodoma e Gomorra. O Mar Morto era maior e de nível mais alto.
Vai tomando cientificamente corpo a reconstrução do fenômeno pelo qual toda a civilização humana e toda forma de vida terminou abruptamente há 3.700 anos nas margens do Mar Morto, relata o jornal “The Times of Israel”

A explosão maciça de um meteorito, registrada há mais de 100 anos na Rússia, permitiu explicar por via de semelhança o desastre bíblico, comparando as evidências arqueológicas similares.

Em 1908, uma grande explosão perto do rio Stony Tunguska, na Sibéria, arrasou cerca de 2.000 quilômetros quadrados de florestas desabitadas de taiga.

Nenhuma cratera foi descoberta e os cientistas explicam o fenômeno através de uma explosão de meteoro entre 5 e 10 km acima da superfície.

A explosão de Tunguska está servindo como modelo explicativo do fim de uma civilização próspera que viveu por milhares de anos em uma planície perto do Mar Morto, no local hoje denominado Tall el-Hammam, na Jordânia, comumente denominado Sodoma.

Segundo a revista Science News, numa recente Reunião Anual da American Schools of Oriental Research – ASOR, sediada em Denver, o diretor de análise científica do Projeto de Escavação Tall el-Hammam (TeHEP), Phillip J. Silvia, apresentou o artigo: “O evento na região do Ghor Médio há 3.700 anos: O fim catastrófico de uma civilização da Idade de Bronze” (“The 3.7kaBP Middle Ghor Event: Catastrophic Termination of a Bronze Age Civilization”) durante uma sessão sobre Arqueologia Ambiental do Antigo Oriente Próximo. Texto completo em PDF.

As evidências apontam um evento explosivo de “alta temperatura” ao norte do Mar Morto que instantaneamente “devastou aproximadamente 500 km2”.

A explosão teria destruído toda a civilização e forma de vida na área, incluindo outras cidades e vilarejos, plantações e animais de toda espécie, além da atividade microbacteriana na terra.

Silvia disse a Science News que a explosão matou instantaneamente entre 40 mil e 65 mil pessoas que habitavam a região do Ghor Médio, uma planície circular de 25 quilômetros de largura na Jordânia.

O solo fértil teria sido perdido porque os nutrientes foram consumidos pelo elevado calor, e as ondas salgadas do Mar Morto teriam esterilizado a área circundante, invadindo-a como um tsunami.

Sodoma e Gomorra em fogo, Herri met de Bles  (1510 – 1555), Museu Nacional de Varsóvia
Sodoma e Gomorra em fogo, Herri met de Bles (1510 – 1555), Museu Nacional de Varsóvia
A explosão causou também fortes ventanias quentes que depositaram uma chuva de grãos minerais, encontrados em cerâmicas em Tall el-Hammam.

Foram escavados cinco grandes locais na região que ofereceram provas adicionais do fim imediato da população no desastre.

A datação por radiocarbono mostrou que as paredes de tijolos de barro das construções “desapareceram repentinamente cerca de 3.700 anos atrás, poupando apenas os alicerces de pedra”.

Os esmaltes dos objetos da época experimentaram temperaturas altas suficientes para transformá-los em vidro.

Para isso foi necessário “um calor talvez tão elevado como a superfície do sol”, disse o Prof. Phillip Silvia.

O Prof. Silvia, que ensina na Trinity Southwest University, juntou-se a uma equipe multidisciplinar de cientistas da New Mexico Tech, Universidade do Norte do Arizona, Universidade Estadual da Carolina do Norte, Universidade Estadual Elizabeth City (NC), Universidade DePaul, Universidade Trinity Southwest, Grupo de Pesquisa Cometa e Laboratórios Nacionais de Los Alamos.

Eles analisaram amostras de 12 temporadas de escavações em Tall el-Hammam e concluíram que a explicação mais lógica para a morte da região foi uma explosão de meteoros.

“Múltiplas linhas de evidência sugerem coletivamente um evento cósmico semelhante ao de Tunguska (Rússia), que apagou a civilização – incluindo a cidade-estado da Idade do Bronze, Tall el-Hammam – no Ghor Médio (planície circular de 25 km de diâmetro imediatamente ao norte do Mar Morto) por volta do ano 1.700 a.C., ou 3.700 anos antes do presente (3.7kaBP)”, escrevem os autores.

“Levou pelo menos 600 anos para a região se recuperar suficientemente da destruição e da contaminação do solo antes que a civilização pudesse se estabelecer novamente”, eles escrevem.

De acordo com um artigo de 2013 da Revista da Arqueologia Bíblica (Biblical Archaeology Review) do co-diretor do TeHEP, Dr. Steven Collins, o lugar de Tall el-Hammam é forte candidato a ser a cidade bíblica de Sodoma devido a uma infinidade de fatores.

Coluna de sal chamada 'mulher de Ló' perto do Mar Morto.
Coluna de sal chamada 'mulher de Ló' perto do Mar Morto.
Entre outras citações bíblicas, Collins cita o Gênesis acima reproduzido.

Collins foi ao local, testemunhou os efeitos de tal destruição e descreveu: “A conflagração violenta que terminou com o povoamento em Tall el-Hammam produziu cerâmica derretida, pedras fundamentais queimadas e vários metros de cinzas e destroços”.

A explosão de meteoros e suas consequências catastróficas teriam sido as causas naturais da destruição maciça executada por ordem divina na orgulhosa cidade pecadora de que fala a Bíblia?

Silvia e Collins escreveram que “as evidências físicas de Tall el-Hammam e locais vizinhos exibem sinais de choque violento e abrasivo altamente destrutivo que se pode esperar seja o descrito em Gênesis 19”.

Os estudos do pesquisador de energia atômica Samuel Gladstone levam a calcular que “o efeito da explosão de 10 megatons [dez milhões de toneladas] no canto nordeste do Mar Morto seria suficiente para produzir o dano físico observado a 10 km de Tall el-Hammam.

“Observe-se que essa é apenas metade da força da explosão de Tunguska (na Sibéria), bem dentro da experiência humana ‘recente’ de explosões de meteoritos!”, escrevem.

“A destruição não apenas de Tall el-Hammam (Sodoma), mas também de seus vizinhos (Gomorra e as outras cidades da planície) foi provavelmente causada por explosão de meteorito”, concluem.

Na Biblical Archaeology Review, Collins aponta como argumento sólido que o grande desastre ficou gravado na memória cultural coletiva que é preservado na tradição bíblica.

“A memória da destruição da região com sua grande população e extensas terras agrícolas foi conservada no Livro do Gênesis e, finalmente, incorporada a uma tradição oral que lembra um lugar consumido por uma catástrofe inflamada que 'proveio dos céus'”, escreve ele.

E “a Bíblia dá o nome dessa cidade: Sodoma”.

Outras hipóteses não concluem

Graham Harris, geólogo aposentado, apaixonado por enigmas antigos, foi citado nesta polemica pela BBC, por defender que as pistas certas estão na própria Bíblia.

Harris passou uma década trabalhando na área onde a Bíblia coloca Sodoma e Gomorra, na região do Mar Morto, entre Israel e Jordânia. Ele se inclinou para a hipótese de um grande terremoto que provocou um deslizamento de terra colossal capaz de produzir completa destruição.

Tall el-Hammam, só os alicerces de pedra não foram calcinados
Tall el-Hammam, só os alicerces de pedra não foram calcinados
A professora Lynne Frostick, geóloga da Universidade Hull, na Inglaterra, e Jonathan Tubb, do Museu Britânico, viajaram para o Oriente Médio para investigar a hipótese de Harris.

As descobertas de suas pesquisas permitiram ao Dr. Gopal Madabhushi, do Cambridge University Centrifuge Laboratory, na Inglaterra, construir um modelo preciso e em escala reduzida dos prédios em Sodoma e do terreno sobre o qual foi construída.

Madabhushi submeteu o modelo a um terremoto simulado que provaria como cidades inteiras puderam ser destruídas.

Jonathan Tubb objetou que toda a área ao redor do Mar Morto é seca e árida, e não concorda com a imagem bíblica de cidades prósperas.

Porém, escavou um local chamado Tell es-Sa'idiyeh, ao norte do Mar Morto, e achou restos de uma antiga fábrica de azeite. Isso prova que a vida na região foi sofisticada em remotos tempos.

Mais ainda, Tubb acredita que no início da Idade do Bronze ali existiram as únicas cidades que correspondiam às descrições de Sodoma e Gomorra.

O professor antropólogo forense americano Mike Finnegan achou perto do Mar Morto os esqueletos de três homens com sinais de terem sido esmagados num terremoto.

A professora Lynne Frostick consultou o geólogo israelense Shmuel Marco, que lhe mostrou uma enorme falha causada por um terremoto antigo de pelo menos seis na escala Richter.

Se fosse um terremoto, por maior que tivesse sido, teria derrubado os edifícios e deixado ruínas, mas não destruído totalmente, como descrito pela Bíblia e constatado por cientistas.

Então a suposição de um terremoto, avançada por Harris, não parece plausível.

A formação de imensas e catastróficas barreiras – outra hipótese – exigiria que o solo ao redor do Mar Morto contivesse muita água, ou que Sodoma e Gomorra estivessem à beira d’água.

O Dr. Gopal Madabhushi, trabalhando na centrífuga, 'disparou' um terremoto de força seis que criou uma cena de extrema calamidade.

Porém, experimentos em laboratório podem ser muito úteis, mas precisam ser corroborados por achados na própria realidade. E isso falta totalmente a esta hipótese, de momento carente de fundamento in re.

Sopé do Moute Sodoma, onde começava a planície de Sodoma. As construções são recentes.
Sopé do Moute Sodoma, onde começava a planície de Sodoma.
As construções são recentes.
Calor como na superfície do sol

O site australiano de notícias News.com.au julgou como mais seguro e fundado em fatos, além do testemunho bíblico, tratar-se da explosão de um asteroide superaquecido que gerou uma enorme bola de fogo, produzindo ondas de choque no Mar Morto, ou tsunamis.

O site cita o mencionado arqueólogo e pesquisador bíblico da Universidade Trinity Southwest, Phillip Silvia, para quem a área foi colonizada durante pelo menos 2500 anos, até sofrer repentinamente um colapso coletivo.

A catástrofe foi de tal maneira abrupta que já foram achados restos de mais de 120 aldeamentos que teriam desaparecido expostos à explosão ígnea.

Silvia não fala com experimentos de laboratório, mas com o conhecimento de 13 anos de escavações na área, feitas com uma numerosa e graduada equipe.

E os dados colhidos fornecem a maior evidência preliminar de um meteoro que estourou em baixa altitude.

“No início do terceiro milênio a.C., ocorreram perturbações dramáticas na relativa paz da região [leia-se guerras], fazendo com que os habitantes de Tall el-Hammam construíssem um formidável sistema defensivo que incluísse uma muralha de tijolos de pedra e lama”, explica ele.

O reino de Sodoma tinha tudo para continuar a prosperar protegido, e de fato o fez. Até que, de repente, desapareceu.

Que calamidade aconteceu? Isso chamou muito a atenção dos cientistas Silvia e Collins.

Panorama de cinzas na região de Sodoma e Gomorra junto ao Mar Morto
Panorama de cinzas na região de Sodoma e Gomorra junto ao Mar Morto
“Enquanto as cidades a oeste (Jerusalém, Betel, Hebrom), norte (Deir 'Alla, Pella, Beth Shan) e leste (Rabbath-Ammon, Tall al-Umayri, Nebo) continuaram sua existência no final da Idade do Bronze, as cidades e vilarejos do leste do Jordan Disk, não”, entre eles a Pentápolis.

“Que a terra agrícola mais produtiva da região, que apoiou civilizações florescentes continuamente por pelo menos 3000 anos, repentinamente deixe de existir e depois resista à habitação humana por um período tão longo de tempo, é algo que pede investigação”.

Phillip Silvia diz que a onda de choque do estouro do asteroide provavelmente jogou um tsunami de salmoura do Mar Morto sobre o que antes era terra fértil.

“As amostras do solo que virou cinza coletadas em Tall el-Hammam contêm evidências de destruição e contaminação do subsolo com sais do Mar Morto, o que impediria o cultivo de culturas por muitos séculos após o evento”.

Os sobreviventes dos cerca de 50.000 moradores da área foram forçados a sair.

Por isso, os professores Silvia e Steven Collins afirmam que os dados colhidos em Tall el-Hammam afirmam que a tese da destruição pelo meteorito é inteiramente consistente com a História e com o Gênesis.

Eles apresentam o achado de cristais de zircão, que só poderiam se formar no primeiro segundo da explosão de calor extremo, ou por temperaturas tão quentes como a superfície do sol.

Confirmando a explosão no ar, foram descobertos pequenos grãos minerais esféricos que choveram após a detonação, junto com quantidades incomuns de platina-paládio, diz Silvia.

“Atualmente, os resultados da pesquisa referentes ao “Evento 3.7KYrBP Kikkar” estão sendo compilados para publicação e apresentação”, relata o site do Tall-el-Hammam Excavation Project (TeHEP).






7 comentários:

  1. Como a Ciência tem aprendido com a Religião!!! Já dizia um eminente cientista que algum dia o homem provaria a existência de Deus matematicamente...

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  2. Olá gosto muito de saber que existem pessoas interessadas nas coisas de Deus não sabemos exatamente o que houve mas pelas escrituras e os atuais estudos foi algo q nos q com Deus não Se brinca.Mas até hj os seres humanos não aprendeu isso

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    1. Sim, verdade pura! Muitos ousam a brincar ou escarnecer com Deus! O mesmo acontecerá com BABILÔNIA, no Apocalipse!

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  3. Meu Deus! Muitíssimo interessante essas descobertas incríveis! Isso só mostra cada vez mais a veracidade dos fatos bíblicos!

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  4. Amei o artigo,muito edificante saber que a ciência está buscando a veracidade da existência de Deus, espero que Descubram mais evidências da existência de Sodoma pos Deus com certeza vai providenciar provas o suficiente do que de fato houve,eu não sei,mais creio no Deus todo poderoso, ainda bem que enviou seu próprio filho para morrer por nós,já pensou se nos tempos de hoje ele agisse como fez com Sodoma?estaria muita gente frito.
    Com Deus não se brinca, e nem com os desígnios D,ele.

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  5. É sempre maravilhoso saber que a bíblia tem sido desconstruída cada vez mais. Não julgo se Deus existe ou não, assim como não julgo se outros deuses existem, mas é fato que a Bíblia foi escrita de forma pedagógica, a partir de histórias, para moldar as pessoas. Meteoros são mais comuns do que a gente pensa. No caso de Sodoma, foi azar. rs se cuidem, bebam água e acreditem na bíblia, mas em seus sentidos metafóricos e não literais. Foi fogo que destruiu Sodoma? Explicado, um meteoro. Foi Deus que enviou? Não. Deus existe? Não sei. bjos

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