segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Achada espada do faraó increpado por Moisés

Estátua de Ramsés II no Templo de Luxor
Estátua de Ramsés II no Templo de Luxor
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Há mais de 3.000 anos, o profeta Moisés enfrentou ao todo-poderoso faraó do Egito para obter a libertação do povo judeu da escravidão com que o oprimia.

Mas quem foi esse faraó? O livro do Êxodo não nos diz seu nome e os cientistas disputam em certa medida quem poderia ter sido.

A opinião predominante na ciência histórica é que tudo leva a crer esse faraó foi Ramsés II, também referido como Ramsés II, que reinou entre aproximadamente 1279 a.C. e 1213 a.C., o segundo mais longo do Antigo Egito que marcou o auge final do poder militar do reino dos faraós.

Ele foi o mais poderoso do Antigo Egito, e era servido – ou enfeitiçado – por sacerdotes bruxos. Esses, na disputa contra Moisés, fizeram prodígios preternaturais só atribuíveis ao rei dos infernos, Lúcifer.

Para remover a resistência do monarca absoluto, Moisés enviou as dez pragas bíblicas que o constrangeram a deixar sair os israelitas de escravidão para o êxodo rumo à Terra Prometida.

O reinado de Ramsés II foi o mais longo e prestigioso da história dos faraós, marcado por construções colossais cujas ruínas causam admiração até hoje. Os hebreus teriam trabalhado como escravos para construir templos e cidades a serviço do faraó.

Moisés e Arão enfrentam o Faraó, Gustave Doré (1832 — 1883)
Moisés e Arão enfrentam o Faraó,
Gustave Doré (1832 — 1883)
A maioria das evidências arqueológicas e mesmo bíblicas aponta para ele como a faraó do episódio famoso com Moisés, mas sem dissipar inteiramente a dúvida. Alguns supõem que possa ter sido Tutemés III.

E ainda outros propõem que o faraó opressor mencionado em Êxodo (1: 2–2: 23) foi Seti I (r. 1290–1279 a.C.), e o faraó durante o Êxodo foi Ramsés II (r. 1279–1213 a.C.).

Moisés, o instrumento de Deus para libertar os hebreus, pertencia a tribo de Levi e teria vivido 120 anos, mais precisamente entre 1391–1271 a.C. Mais ainda a este respeito há diversas opiniões.

Nesta matéria que requer muita prudência, as melhores e mais acatadas opiniões se inclinam a achar que foi Ramsés II, de prolongado reinado.

Ramsés II, espada de bronze com seu selo (Courtesy of Egyptian Ministry of Tourism and Antiquities)
Ramsés II, espada de bronze com seu selo
(Courtesy of Egyptian Ministry of Tourism and Antiquities)
Agora, uma equipe de arqueólogos que escavava um antigo forte militar localizado a 50 quilômetros a sudeste de Alexandria descobriu e limpou uma longa espada ornamentada com a insígnia de Ramsés II, informou o “The Washington Post”.

O espantoso é que sob camadas de ferrugem e sujeira acumuladas ao longo de milhares de anos, a espada não perdeu seu brilho. Assim nessa folha de bronze brilhante ainda é visível o emblema pessoal do faraó.

“É uma descoberta verdadeiramente surpreendente”, disse Elizabeth Frood, egiptóloga da Universidade de Oxford, que não esteve envolvida na escavação.

Pela coincidência das datas, a descoberta veio reforçar indiretamente a suposição de ter sido ele o faraó increpado por Moisés,.

A descoberta da arma foi feita por arqueólogos do Ministério de Antiguidades do Egito num esconderijo de antigos tesouros egípcios escavados no antigo forte militar de Tell Al-Abqain, uma cabana de barro no Delta do Nilo.

Segundo o Ministério, o forte foi um posto avançado crucial para proteger as fronteiras noroeste do Antigo Egito na era do Novo Império, período áureo daquela civilização infestado de demonismo e conhecido até hoje pela sua arquitetura monumental.

Segundo a egiptóloga Frood, o fato de a espada ter sido descoberta em um ambiente de trabalho, e não dentro de uma tumba, torna a descoberta incomum.

“O fato de um objeto ter a cartela de Ramsés II sugere que ele pertencia a alguém de posição relativamente elevada”, diz o arqueólogo. “Ser capaz de exibir tal objeto, mesmo que ele estivesse embainhado, era um sinal de status e prestígio”.

No local, os arqueólogos também encontraram um delineador de marfim para aplicar Kohl, cosmético usado por homens e mulheres para afastar dos olhos os insetos que espalhavam doenças que cegavam. Também acharam escaravelhos cerimoniais, para uso em rituais diários dos antigos soldados de Ramsés II, e incluindo dois colares e metade de um anel de latão.

Aiman Ashmawy, arqueólogo do Conselho Supremo de Antiguidades do Egito e membro da equipe que participou na escavação, refere que no forte havia grandes potes para guardar alimentos com restos de peixes e ossos de animais além de fornos cilíndricos de cerâmica para cozinhar, sugerindo que no local funcionava alguma cantina.

Sitio arqueológico onde foi achada a espada
Sitio arqueológico onde foi achada a espada
Os objetos estavam numa fileira de cabanas de barro perfeitamente organizadas, típicas dos quartéis e depósitos de armas egípcios, separadas por uma passagem estreita. O traçado é consistente com a arquitetura oficial do estado egípcio da época encontrada em outras partes do país.

O secretário-geral do Conselho Supremo de Antiguidades, Mohamed Ismail Khaled, disse que o forte militar formava parte de um anel de “unidades defensivas da fronteira ocidental do Egito, e eram utilizadas como bases para operações militares contra grupos de líbios”.

Os antigos egípcios deixaram inscrições vívidas detalhando os seus ferozes confrontos com esse povo fronteiriço que os atacou repetidas vezes.

A espada pode ter sido de uso militar ou tal vez cerimonial, uso ao qual os egípcios davam muita importância por sua inclinação a uma religião altamente simbólica dos poderes infernais.

A curiosidade do achado arqueológico ressalta na nossa época em que a Igreja Católica e o catolicismo em geral gemem sob a infiltração despótica da fumaça de Satanás nos ambientes mais sagrados e mais categorizados.

O faraó que escravizava o povo eleito foi uma prefigura da Revolução comuno-progressista que também escraviza moralmente aos católicos.

A aparição da lâmina daquele opressor do Antigo Testamento na nossa época que tem fortes traços de analogia com aquela, nos faz pensar na vinda de alguém enviado por Deus como um novo Moisés para nos tirar da extrema aflição.

Moisés e Arão ante o Faraó, William Brassey Hole (1846 – 1917)
Moisés e Arão ante o Faraó, William Brassey Hole (1846 – 1917)
A comparação que fazemos de ambas situações separadas por 3.000 anos de história, em verdade não é nossa. Foi feita por um santo religioso carmelitano dotado de luzes proféticas e elevado à glória dos altares pela Igreja: o Beato Padre Francisco Palau y Quer (1811-1872).

Ele considerava que ante a penetração de Satanás e de sua “estirpe humana de Judas” inclusive nas mais altas esferas da Igreja, impunha que Deus enviasse à Terra um amado filho seu dotado de poderes especiais para derrotar a tirania universal do demônio e de seus servidores humanos.

O Beato Palau aspirava pela vinda do profeta Elias como está anunciada no Novo Testamento.

Porém, reconhecia que poderia ser um outro escolhido, com outro nome, mas que realizaria a “missão de Elias” e tiraria a Igreja da opressão diabólica em que está.

Para distingui-lo ele criou um perfil que denominou “Moisés da Lei da Graça” dizendo que aquele que se encaixe nesse perfil, será o enviado ainda que tenha outro nome.

O achado da espada do faraó nos convida a reflexões do gênero.


segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Amazônia: estonteante dependência do Saara

Poeira fertilizante do Saara todo ano passa por cima do Atlântico e sustenta a vida na Amazônia e no Caribe
Poeira fertilizante do Saara todo ano passa por cima do Atlântico e sustenta a vida na Amazônia e no Caribe
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
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A Amazônia é a maior floresta tropical úmida da Terra. E o Saara é o maior e mais quente deserto do mundo.

Na aparência, nada de mais diverso e sem relação um com outro. Uma imensa selva verde úmida no coração da América do Sul, e um infindável areal, composto de poeira e pedra, onde sopram ventos ardentes no norte da África.

Porém, se, por ventura, os dois estivessem vitalmente unidos? Se o mais pleno de vida dependesse do mais morto para sobreviver, quem ou o quê poderia ter criado essa inter-relação?

Por certo, uma interdependência tão profunda foge à imaginação do homem e a qualquer instrumentalização ou fabrico também humano.

Também fugiria às regras da teoria da evolução de Darwin, segundo o qual tudo o que há procede de uma realidade pré-existente, e essa de outra, por uma série intérmina e jamais demonstrada de mutações atribuíveis ao azar e à necessidade.

Há, porém, um fenômeno que envolve ventos e minérios sem vida e que sustenta a vida vegetal e animal na maior floresta tropical úmida do planeta.

Amazônia: estonteante dependência do Saara criada por Deus
Amazônia: estonteante dependência do Saara criada por Deus
Chegando no III milênio a ciência com seus mais avançados instrumentos pode documentar e mensurar esse fenômeno colossal.

Dito fenômeno une essas duas imensas realidades geográficas tão dissemelhantes passando por cima de um oceano.

Pela primeira vez um satélite da NASA mensurou em três dimensões a quantidade de poeira do Saara trazida pelos ventos por cima do Atlântico.

E calculou não só a poeira, mas também o fósforo que vem no meio dela: 22.000 toneladas de fertilizante puro, do qual a selva da Amazônia depende para existir.

A equipe comparou o conteúdo de fósforo da poeira do Saara na depressão de Bodélé com dados das estações científicas de Barbados, no Caribe, e de Miami, nos EUA.

Os resultados do estudo foram publicados na Geophysical Research Letters, revista da American Geophysical Union, segundo divulgou a NASA (vídeo embaixo).

O líder do trabalho foi Hongbin Yu, cientista da atmosfera da Universidade de Maryland que trabalha no Goddard Space Flight Center da NASA em Greenbelt, Maryland. Yu e sua equipe fizeram os cálculos com base em dados coletados pelo satélite Calipso, da NASA, entre 2007 e 2013.

Yu e sua equipe estudaram a poeira que provém especialmente da Depressão de Bodélé, no Chade. Trata-se de um antigo lago seco cujas rocas compostas por micro-organismos mortos estão carregadas de fósforo.

Esse é um nutriente essencial para o crescimento das plantas e a vegetação depende dele para florescer.

O estudo analisou especialmente a depressão de Bodélé de onde sai boa parte do fósforo fertilizador.
O estudo analisou especialmente a depressão de Bodélé de onde sai boa parte do fósforo fertilizador.
Os nutrientes são escassos no solo amazônico e alguns deles, como o fósforo, são lavados pelas chuvas. Sem os fosfatos (sais do fósforo), a floresta da Amazônia estaria condenada à morte.

Porém, segundo Yu, o fósforo que chega do Saara, estimado em 22.000 toneladas por ano, equivale aproximadamente à mesma quantidade levada pelas chuvas e pelas enchentes.

Esse fósforo é apenas 0,08% das 27,7 milhões de toneladas de poeira do Saara depositadas anualmente na Amazônia.

No total, os ventos do deserto africano levantam cada ano 182 milhões de toneladas de poeira. O volume encheria o volume de carga de 689.290 caminhões. O pó viaja 2.800 quilômetros sobre o Atlântico até cair na superfície arrastado pela chuva.

Perde-se uma parte pelo caminho. Chegando à costa do Brasil, ficam ainda no ar 132 milhões de toneladas. Por fim, 27,7 milhões de toneladas – capazes de encher 104.908 caminhões – caem sobre a superfície da bacia Amazônica. Outros 43 milhões de toneladas seguem para o Caribe.

É o maior transporte de poeira do planeta. Há importantes variações segundo os anos, dependendo dos ventos e de outros fatores.

Desta maneira o deserto morto sustenta a vida na exuberante floresta amazônica tropical e úmida. Sem o Saara a mata da Amazônia não existiria.

Vídeo: Amazônia: estonteante dependência do Saara criada por Deus



Quem teria imaginado algo tão extraordinário funcionando há milênios de anos como uma engrenagem supremamente sábia?

Fenômenos como o identificado pela NASA postulam a existência de um Deus que criou o mundo com infinita sabedoria e o governa com insondável poder. Mosaico siciliano do século XII
Fenômenos como o identificado pela NASA postulam a existência de um Deus
que criou o mundo com infinita sabedoria e o governa com insondável poder.
Mosaico siciliano do século XII
Há certos fenômenos naturais que nos obrigam a reconhecer um Criador de uma sabedoria e de um poder infinitos.

Isso apesar de uma intensa propaganda que chega ao absurdo de dizer que o ecossistema do planeta depende decisivamente de nós.

Sem o homem saber, desde que o Saara e a Amazônia existem o pó fertilizante do deserto africano chega na dose certa, mas colossal, todo ano, por cima do Atlântico.

Quem tem a sabedoria para imaginar esse processo sustentador de uma floresta como a amazônica da qual depende a Terra toda, a outros títulos?

Quem tem o poder para criar e depois garantir esses processos em sua regularidade constante há milênios?

Sem dúvida a ciência presta um inestimável tributo com uma descoberta como esta que postula a existência de um Deus criador e sustentador do céu e da terra.

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Identificados os restos do bispo medieval que criou o Caminho de Santiago

Santiago o maior, retablo no Alcácer de Segóvia, Espanha
Santiago o maior, retábulo no Alcácer de Segóvia, Espanha
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
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Após a descida do Espírito Santo sobre a Igreja nascente, comemorado na festa de Pentecostes, na data aproximada de 33 d. C., os Apóstolos se dispersaram pelo mundo conhecido para pregar o Evangelho.

De início obtiveram muitas conversões em Israel, fato que desatou a cólera do mesmo Sinédrio que instigou a Crucificaxão.

Alguns Apóstolos chegaram a ser presos. Viram então que não poderiam ficar muito tempo livres na Terra Santa e combinaram que São João levaria Nossa Senhora a Éfeso, cidade então do império romano e onde o Sinédrio não tinha poder.

Os demais partiram em todas as direções.

São Pedro acabaria instalado sua Sede em Roma e São Tiago, cruzando o mar Mediterrâneo desembarcou na Hispania (atuais Espanha e Portugal).

Sua pregação teria começado na Gallaecia, atual Galícia espanhola e norte de Portugal, mas percorreu a península ibérica toda fazendo discípulos.

Sete deles quais foram sagrados bispos por São Pedro, após o martírio de São Tiago.

A pregação do Apóstolo não foi nada fácil.

A região estava povoada de pagãos, e muitos o recebiam como um inimigo de seus falsos deuses.

Em Caesaraugusta, atual Zaragoça, onde ganhou conversões em grande número, lançaram víboras contra ele, mas o santo as segurava tranquilamente nas mãos.

Em Granada, foi preso com todos os discípulos e neófitos.

Nossa Senhora lhe teria feito saber misticamente de ir pregar à Galícia.


Aparição de Nossa Senhora do Pilar


De retorno em Zaragoça para atender a pequena, mas crescente comunidade cristã, o Apóstolo rezava pensando em Maria Santíssima quando viu descer um resplendor.

Apareceram anjos carregando uma coluna de luz alta e delgada que terminava num lírio aberto e lançava línguas de fogo em várias direções.

Uma delas ia até Compostela. O fato teria acontecido por volta do 2 de janeiro do ano 40 d.C.

No resplendor do lírio o Apóstolo viu Maria Santíssima, de nívea brancura e transparência, que estava de pé como costumava rezar, com as mãos juntas e um grande véu na cabeça, que lhe caía até os pés.

Segundo outras versões Nossa Senhora se apareceu “em carne mortal”.

São Tiago recebeu interiormente o aviso de erguer ali uma igreja que a intercessão de Maria faria crescer.

Nossa Senhora dol Pilar aparece ao Apóstolo Santiago e anuncia sua próxima Assunção, igreja de Santiago, Madrid
Nossa Senhora do Pilar aparece ao Apóstolo Santiago
e anuncia sua próxima Assunção, igreja de Santiago, Madrid
Essa seria a origem da magnífica basílica atual de Nossa Senhora do Pilar, padroeira da Espanha.

Disse-lhe a Virgem que, uma vez concluída a igreja, voltasse para Jerusalém. Ele partiu para encontra-la em Éfeso.

Maria lhe anunciou sua morte próxima que aconteceria em Jerusalém na presença de todos os Apóstolos miraculosamente convocados.

Após a Assunção, São Tiago foi preso e decapitado no monte Calvário.

Seus discípulos São Atanasio e São Teodoro levaram o corpo de volta para a Espanha pelo mar.

O navio foi conduzido providencialmente até as praias da Galícia, onde teria sido enterrado precisamente no local identificado como Iria Flavia, e que acabou sendo identificado no século IX.

A descoberta teve muito de maravilhoso. Por volta do ano 813 (ou 820 segundo outros) reinando em Astúrias, Afonso II el Casto.

Nessa época um ermitão de nome Paio (Pelayo) declarou ao bispo diocesano de Iria Flavia, Mons. Teodomiro, que vira luzes brilhando sobre um morro desabitado.

Feitas as averiguações, no local foi encontrado um túmulo, de época romana, que guardava os restos de um corpo decapitado e cuja cabeça estava sob um dos braços.

Os restos eram de três pessoas distintas: dois de idade mediana e uma na fase final da vida.

Assim se supôs piedosamente que pertenciam ao que narrava a tradição: São Tiago e seus discípulos Atanasio e Teodoro

Um rei é o primeiro peregrino a Compostela


A notícia chegou ao rei Afonso II da região vizinha das Astúrias, que marchou com a sua corte de Oviedo para Compostela.

Essa peregrinação real de 146 quilômetros foi a primeira, pelo que hoje é conhecido como o “Caminho Primitivo”, o caminho mais antigo usado pelos peregrinos do Caminho de Santiago.

Busto relicário de Santiago Apóstolo, na basílica de Compostela
Busto relicário de Santiago Apóstolo, na basílica de Compostela
E a igreja que o rei mandou construir acima do túmulo deu origem à atual Catedral de Santiago de Compostela.

O nome de Compostela provém do latim campus stellae ou “campo das estrelas”, em atenção às luzes que apareceram no morro em que estava o túmulo.

A glória do Apóstolo, de cujo sacrifício nasceu a nação ardente de zelo como um lírio pegando fogo em que ele viu a Nossa Senhora desde então se manifesta atraindo multidões de peregrinos que ainda hoje fazem o “Caminho de Santiago” completando até mil ou dois mil quilômetros a pé.

Comprovação científica das relíquias


Na medida em que o desenvolvimento do processo histórico revolucionário progredia, ele foi pondo em tela de juízo todas as histórias maravilhosas da Igreja.

No século XIX já andava debandada a suspeita estapafúrdia segundo a qual os santuários são fruto de mentiras do clero para atrair doações de fiéis ignaros, logrados inescrupulosamente.

Compostela seria um desses locais de furto sistemático com fachada religiosa.

No século XIX o papa Leão XIII pediu aos bispos da Espanha todos os documentos que pudessem encontrar a respeito.

Ele recebeu muitos documentos com relatos do acontecido, mas nenhum com as características científicas que requeria uma comissão extraordinária para o estudos dos restos.

Então, enviou a Compostela a Monsenhor Agostino Caprara, promotor da Congregação da Fe no processo, para que examinara os restos no local e colhesse declarações dos responsáveis.

Antes de ir a Compostela, Mons. Caprara, mandou ao Doutor Chiapelli analisar um resto ósseo venerado como relíquia do Apóstolo na cidade de Pistóia, na Itália.

O cientista afirmou se tratar de parte a apófises mastoidea direita com restos de sangue coagulado e que a peça teria sido separada do crânio em consequência da violência da decapitação.

O historiador Patxi Pérez-Ramallo na necrópolis descoberta na basílica de Compostela
O historiador Patxi Pérez-Ramallo na necrópolis descoberta na basílica de Compostela
A comissão chegou em Santiago de Compostela no dia 8 de junho de 1884 durante os exames constatou que um dos três crâneos precisamente carecia da apófises mastoidea direita.

A coincidência foi reveladora e o ditame foi positivo.

Em 25 de julho do mesmo ano, na festividade do Apóstolo Santiago, foi publicado o documento comprobatório da Congregação.

E em 1º de novembro do mesmo ano S.S. o Papa Leão XIII publicou a Bula Deus Omnipotens, sobre a história do Santuário e convocava a empreender novas peregrinações.

Placas identificadoras


Mas, as investigações não ficaram por ali. Foi a hora dos arqueólogos analisando todos os vestígios que puderam se encontrar

O professor Enrique Alarcón, que ensina Filosofia na Universidade de Navarra, publicou em 24 de junho de 2011 um estudo das inscrições encontradas no local.

O estudo foi ampliado e reeditado em 2013 com a colaboração de Piotr Roszak.

A análise do catedrático aponta a existência de um culto funerário ao Apóstolo, pelo menos desde o século II, na cripta da dama romana crista Atia Modesta.

Ele identificou a inscrição Ya'akov (Santiago, em hebreu), acompanhada da simbologia própria da estética sepulcral judeu-cristã do século I, análogas às achadas em outros ossários de Dominus Flevit.

Numa dela há referências à festa judia de Shavu'ot que incluem a representação de pães rituais que deixaram de ser usados por volta do ano 70 d.C. motivados pela destruição do Templo de Jerusalém pelos romanos.

Ditas inscrições permitem precisar cronologicamente a antiguidade do túmulo, apontando ser verdadeiro o que sempre foi acreditado: esse é o túmulo do Apóstolo São Tiago.

Descobertos os restos mortais do bispo Teodomiro


Ossatura na basílica de Compostela que os arqueólogos dizem ser do bispo Teodomiro
Ossatura na basílica de Compostela que os arqueólogos dizem ser do bispo Teodomiro
Como que fechando o conjunto de confirmações científicas, recentemente foram identificados os restos mortais do bispo Teodomiro.

Ele foi o principal responsável pela criação da peregrinação – que já tem mais de doze séculos – do Caminho de Santiago, segundo informou o quotidiano de Madrid “El País”.

O quotidiano espanhol informou baseado em artigo científico, publicado na revista especializada britânica “Antiquity”, da autoria do arqueólogo Patxi Pérez-Ramallo, da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia.

Pérez-Ramallo aplicou diferentes métodos – análise óssea, datação por carbono, análise de isótopos estáveis e testes de ADN – para chegar à conclusão.

Ele garantiu a “El País”. haver “98% de probabilidade de se tratar de Teodomiro”.

Durante séculos, foi muito contestada a existência de Teodomiro projetando uma sombra indireta de dúvida sobre a autenticidade dos relatos antigos relativos ao túmulo de São Tiago.

Em 1955 o arqueólogo espanhol Manuel Chamoso Lamas descobrira uma lápide por baixo da catedral de Santiago de Compostela com o nome de Teodomiro inscrito.

A datação por carbono-14 revelou que essas ossadas correspondiam a uma pessoa cujo estilo de vida correspondia à do alto clero da época, acrescentou “Sapo”.

Túmulo de Teodomiro na Catedral de Santiago de Compostela
Túmulo de Teodomiro na Catedral de Santiago de Compostela
O quotidiano londinense “The Guardian” recolheu as mesmas informações acrescentando que a equipe dos pesquisadores liderada pelo arqueólogo Patxi Pérez-Ramallo, escrevem em “Antiquity” que: 

“A aplicação de uma combinação de técnicas bioarqueológicas está ajudando a desvendar muitas das questões (...) esses dados apoiam a possibilidade de que os restos mortais humanos encontrados em associação com a lápide inscrita sob o piso da Catedral de Santiago de Compostela em 1955 sejam os do Bispo Teodomiro”.

A análise da equipe descobriu que os restos mortais pertenciam a um homem magro e idoso que provavelmente cresceu na área ao redor de Santiago de Compostela e cuja dieta, baixa em proteínas animais, era consistente com as regras monásticas que limitavam o consumo de carne.

Os pesquisadores concluem em “Antiquity”que “esta informação contribuirá diretamente para a conservação dos restos mortais e promoverá um local especial de culto na Catedral de Santiago, enriquecendo as visitas ao templo e à cidade, pois Teodomiro representa uma figura significativa não apenas para a história de Santiago de Compostela, Galícia, mas também para a Espanha, Europa e Catolicismo”.

 

O artigo de “Antiquity”completo em .PDF em https://www.cambridge.org/core/services/aop-cambridge-core/content/view/3D7EA1E8EEE9E2B0F9832547FCF1B545/S0003598X24000917a.pdf


segunda-feira, 22 de abril de 2024

Arqueólogos revelam perseverança heroica dos católicos japoneses perseguidos durante séculos

Mapa do sitio do castelo de Hara, pintura japonesa. Anônimo siglo XVII
Mapa do sitio do castelo de Hara, pintura japonesa. Anônimo siglo XVII
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
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continuação do post anterior: Descobertas capelas dos católicos japoneses perseguidos durante séculos



A resistência de Shimabara

A resistência de Shimabara teve episódios épicos em que sucessivos exércitos pagões foram derrotados com imensas perdas, sendo que os católicos sofreram muito pouco.

Impotentes, os pagãos pediram auxilio aos holandeses protestantes que primeiro forneceram pólvora e canhões.

O chefe holandês Nicolaes Couckebacker se engajou pessoalmente na batalha.

Bala de canhão holandês protestante
Bala de canhão holandês protestante
Ele montou os canhões num barco de guerra e na costa.

Estas armas dispararam cerca de 426 projéteis em 15 dias, sem grande resultado, e dois vigias holandeses foram baleados pelos católicos resitentes.

Parte das mais de 400 balas desenterradas pelos arqueólogos podem ser vistas também no Museu de Shimabara.

Os mesmos peritos encontraram 16 cruzes de metal no castelo, provavelmente feitas a partir da fundição dos projéteis.

Afinal os holandeses se retiraram e receberam uma mensagem dos católicos resistentes:

“Não existem soldados mais corajosos no reino para combater conosco, e não estão envergonhados de terem chamado ajuda de estrangeiros contra o nosso pequeno contingente?” (Doeff, Hendrik (2003). Recollections of Japan. Translated and Annotated by Annick M. Doeff. (Victoria, B.C.: Trafford).

Por fim, o Shogun (chefe militar do império) concentrou um exército de 125.000 homens que arrendeu a fortaleza pela fome e falta de munição.

37 000 católicos e simpatizantes foram presos e martirizados logo a seguir. A perseguição se estendeu a todo o império.

Cruz feita com o bronze das balas holandesas
Cruz feita com o bronze das balas holandesas
Em Nagasaki, padres eram mortos em público e queimados vivos. Aproximadamente 80% dos cristãos da cidade foram executados e os outros foram presos ou escravizados.

Prêmios em dinheiro eram oferecidos aos que denunciassem os religiosos clandestinos.

Os portugueses foram expulsos do Japão, e os protestantes foram premiados.

Até hoje, em datas festivas, as perseguições aos cristãos são lembradas. Na semana do Festival Okunchi, celebrado entre os dias 7 e 9 de outubro em Nagasaki, os moradores da cidade abrem a porta de suas casas e exibem seus pertences no jardim.

Trata-se de um costume do século XVII, quando eles eram obrigados a mostrar tudo o que possuíam para provar que não eram católicos.

“Vosso coração é semelhante ao nosso”

Nossa Senhora com a Cruz no peito e dois anjos
Nossa Senhora com a Cruz no peito e dois anjos
São Francisco Xavier S.J. aportou no Japão em 1549, iniciando a pregação da religião católica.

Sua obra foi continuada com grande sucesso por muitos outros missionários.

Sessenta anos depois, o Shogun, chefe militar do país, desencadeou uma perseguição contra a jovem Igreja.

Essa rivalizou em furor e crueldade com a do imperador Diocleciano no tempo das catacumbas romanas.

As histórias dos mártires japoneses evocam as dos santos dos primeiros séculos no Império Romano.

Muitos, inclusive mulheres e crianças, foram assassinados com inaudita crueldade.

Porém, os que sobreviveram na clandestinidade mantiveram a fé e a transmitiram a seus filhos durante dois séculos.

Na Sexta Feira santa de 1865, dez mil “kakure kirisitan”, ou cristãos ocultos, saíram dos povoados e apresentaram-se em Nagasaki aos missionários.

Estes ficaram de início muito surpresos, pois havia pouco que tinham conseguido ingressar novamente no Japão e mal suspeitavam essa épica história de fidelidade.

Vendo chegar missionários do Ocidente, alguns desses “católicos ocultos” foram à missão e os interrogaram perguntando se eles acreditavam eles no Papa, na Sagrada Eucaristia e em Nossa Senhora.

Ouvindo a resposta positiva, responderam: “Então vosso coração é semelhante ao nosso”.

Mártires de Nagasaki, quadro em Cusco, Peru
Mártires de Nagasaki, quadro em Cusco, Peru.
Esses católicos obedeciam ao conselho dos últimos missionários: só confiarem nos missionários que professassem essas três verdades- chaves da verdadeira religião.

Nagasaki voltou a ser a cidade com mais forte presença católica no Japão. Nas vésperas da Segunda Guerra Mundial, dois de cada três católicos japoneses viviam nela.

Em 1945, esses católicos sofreram um novo e terrível extermínio pela bomba atômica que foi jogada na cidade.

O exemplo dos “católicos ocultos” japoneses é especialmente estimulante, sobretudo quando se pensa na enxurrada de progressismo e de teologias subversivas que tentam extinguir a fé dos católicos autênticos.

Exemplo do tesouro documental achado no Vaticano
O achado no Vaticano

Uma outra descoberta relativa à gesta dos “católicos ocultos” aconteceu no Vaticano em 2011.

Trata-se de uma coleção de por volta de 10.000 documentos oficiais, escritos na sua maioria, da época da perseguição religiosa ou período “Edo” (1603-1867).

Eles foram coletados pelo missionário italiano Pe. Mario Marega († 1978) que viveu longos anos no Japão e reuniu pacientemente esse formidável acervo documentário.

O Professor Kazuo Otomo do Instituto Nacional de Literatura Japonesa está agora restaurando e analisando esse tesouro histórico.

Monumento a Dom Justo Takayama Ukon.  Este poderoso senhor feudal (daimo) é lembrado como grande promotor e protetor  do catolicismo. Considerada sua alta posição na nobreza e no governo do Império, foi exilado junto com centenas de católicos que protegia.  Morreu 40 dias após chegar em Manila, Filipinas.  Está em andamento seu processo de canonização.  Foto de monumento na Praça Dilao, em Manila
Monumento ao Beato Justo Takayama Ukon.
Este poderoso senhor feudal (daimo) é lembrado como grande promotor e protetor
do catolicismo. Considerada sua alta posição na nobreza e no governo do Império,
foi exilado junto com centenas de católicos que protegia.
Morreu 40 dias após chegar em Manila, Filipinas.

Foto de monumento na Praça Dilao, em Manila
Os documentos são em sua maioria relatórios do controle da religião dos habitantes das regiões católicas.

“Este volume inusualmente grande de relatórios oficiais mostra devassas policiais e privações da liberdade religiosa”, diz o Prof. Otomo.

Os escritos permitirão estudar com minúcia essa perseguição, acrescentou.

Malgrado a brutalidade das leis, o catolicismo sobreviveu especialmente em certas partes da ilha de Kyushu, a terceira maior ilha do arquipélago japonês, ou em ilhas mais remotas, onde ainda há continuadores católicos da pregação de São Francisco Xavier.

O Pe. Marega coletou esses documentos quando morava na ilha de Kyushu antes e depois da II Guerra Mundial.

No material também há relatórios oficiais da prefeitura de Oita, onde estão as grutas de que falamos no início destes posts.

Os escritos mostram uma rotina de espionagem da adesão religiosa dos cidadãos residentes, registros de conversões religiosas, policiamento da vida dos parentes de cristãos ou ex-cristãos, e os métodos dos agentes do governo para obrigar os católicos a acalcarem imagem de Jesus e Maria para provarem que não eram católicos.

“Este é o tipo de achado que faz a gente cair de joelhos” disse Rumiko Kataoka, especialista em Histórica Cristã Japonesa na Universidade Católica Junshin de Nagasaki.

“Detalhados documentos oficiais jogam luz sobre a maneira que os católicos mantinham sua fé”, na região, acrescentou ela.

O samurai Hasekura Tsunenaga, chefe da primeira missão diplomática japonesa na Europa.  Seu galeão era o 'São João Batista'. O embaixador foi batizado na capela pessoal  do rei da Espanha em Madri, em 1615. Morreu exortando todos à fidelidade ao catolicismo.  Seus descendentes e servos foram martirizados.
O samurai Hasekura Tsunenaga, chefe da primeira missão diplomática japonesa na Europa.
Seu galeão era o 'São João Batista'. O embaixador foi batizado na capela pessoal
do rei da Espanha em Madri, em 1615. Morreu exortando todos à fidelidade ao catolicismo.
Seus descendentes e servos foram martirizados.
Historiadores de Oita cooperarão com o projeto Marega cruzando as informações com as que eles coletaram no local, disse Akihiro Sato, chefe do Arquivo Histórico dos Sábios Antigos da Prefeitura de Oita.

Otomo disse que três dos 21 pacotes de documentos já foram abertos e estão a disposição dos pesquisadores que poderão investigar também nos outros pacotes.

“Este é um estudo que mostra o relacionamento entre um estado [pagão] e uma religião [a católica]. Há muitas questões hodiernas que estão envolvidas nisso, para serem estudadas”, acrescentou o Prof. Otomo.

A equipe do Prof. Otomo planeja publicar online todo o material.


O embaixador Hasekura Tsunenaga se ajoelha diante do Papa. Pintura japonesa anônima, século XVII
O embaixador Hasekura Tsunenaga se ajoelha diante do Papa. Pintura japonesa anônima, século XVII

segunda-feira, 8 de abril de 2024

Descobertas capelas dos católicos japoneses
perseguidos durante séculos

Gruta perto de Nagasaki, sobre o mar. Os católicos reunidos foram pegos e martirizados
Gruta perto de Nagasaki, sobre o mar.
Os católicos reunidos foram pegos e martirizados
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs



Na região japonesa de Taketa, muito considerada pela sua beleza natural, foram descobertas oito capelas católicas escavadas na pedra durante a perseguição desencadeada pelo Shogun, governador militar do império, informou a agência Zenit.

Situada no centro da prefeitura de Oita Kyushu, Taketa também é conhecida como a pequena Kyoto e está rodeada por montanhas e pelo rio Ono.

Lá estão as águas termais mais conhecidas do império do sol nascente.

Mas a região é também onde a graça do batismo foi vertida com maior abundância.

Quando os missionários chegaram à localidade, ela se converteu e foi um dos centros com maior presença católica do Japão.

Um nobre samurai, batizado por São Francisco Xavier em Oita, foi para Taketa.

Capela escavada na pedra em Taketa
Capela escavada na pedra em Taketa
Ali, muitos grandes proprietários de terra foram conquistados pelo exemplo do nobre guerreiro e foram professando a Fé católica.

O primeiro grupo contava 200 fiéis, mas não demorou para que em Taketa que tinha uma população de 40.000 habitantes, mais de 30.000 adotassem o catolicismo.

A grande cidade vizinha, Nagasaki, também passou a ser maioritariamente católica.

Tudo mudou com a perseguição religiosa pagã, instigada secretamente pelos protestantes holandeses que também tinham chegado ao país.

Temendo a morte, inúmeros apostataram, mas muitos outros – calcula-se que a metade – passaram a praticar o catolicismo na clandestinidade.

Mantiveram-se firmes na fé inclusive desprovidos de sacerdotes que pudessem lhes administrar os Sacramentos ou celebrar a Missa.

Os católicos perseguidos construíram esconderijos nas florestas que rodeiam a cidade a fim de praticar suas devoções, ensinar o catecismo e professar sua fé.

Atual castelo de Shimabara que alberga o Museu
Atual castelo de Shimabara que alberga o Museu
Não podendo ter igrejas, eles escavaram as pedras dos morros, abrindo pequenos locais de culto para se reunirem e rezar.

Localizadas por Goto Atsusi, cujos antepassados foram “católicos ocultos”, oito dessas comovedoras capelas esculpidas na rocha podem agora ser visitadas.

Acredita-se que exista pelo menos uma centena delas nas rochas vulcânicas de Taketa.

Estas rochas são muito resistentes e após quatro séculos podem ser visitadas.

Nessas capelas “catacumbais” católicos japoneses cheios de fé perseveraram durante séculos, aguardando a vinda de missionários genuinamente católicos.

Samurai com terço no pescoço
Samurai com terço no pescoço
A descoberta

Em 2011, o secretário para a herança cultural de Taketa leu uma referência a essas capelas num escrito novelesco.

Porém, ele intuiu que havia verdade no relato e saiu à procura das capelas dos “católicos escondidos”. E achou oito delas.

O sacerdote jesuíta Cristian Martini Grimaldi foi até Taketa a ver os achados.

Ele era missionário havia décadas no Japão e foi recebido pelo prefeito Katsuji Syuto.

O prefeito levou-o até uma casa onde se praticava o catolicismo “catacumbal”.

O missionário descreveu sua viagem no “L’Osservatore Romano” (9/1/2014).

A descoberta trouxe à tona os trabalhos arqueológicos que pesquisam a resistência católica de Shimabara.

Entre 1637 e 1638, os católicos perseguidos se concentraram na fortaleza de Hara, sendo sitiados por poderosos exércitos pagãos.

Livros descrevem que, em momentos de desespero, os camponeses se apoiavam na fé, levantando cruzes e bandeiras brancas.

Cruz de bronze desenterrada em Shimabara
Cruz de bronze desenterrada em Shimabara
Para adquirir coragem, rezavam e gritavam os nomes de Jesus Cristo e da Virgem Maria.

De início, nem todos os que se reuniram na fortaleza eram católicos.

Porém, no calor da luta muitos pagãos foram pedindo o batismo.

Uma escavação arqueológica na fortaleza foi iniciada em 1992 com o patrocínio da prefeitura de Nagasaki.

Nos trabalhos estão sendo exumadas imagens de bronze de Jesus, de Maria e de São Francisco Xavier, além de cruzes e rosários.

Espada de samurai com a Cruz gravada
Espada de samurai com a Cruz gravada
Muitos desses objetos de piedade, assim como armas, estão expostos num museu especial dentro do atual castelo de Shimabara.

Podem-se ver espadas de samurai (cavaleiros e guerreiros nobres) com a Cruz gravada nelas, vasos com cruzes, etc.

Também foram recuperadas peculiares imagens católicas.

Elas num primeiro relance parecem ídolos pagãos, porém bem observadas são imagens católicas assim feitas para distrair os perseguidores.



continua no próximo post: Arqueólogos revelam história heroica dos católicos japoneses perseguidos durante séculos – 2


segunda-feira, 25 de março de 2024

A “escada milagrosa” de São José
é verdadeiramente miraculosa?

A escada inexplicável cuja construção a piedade atribui a a São José
A escada inexplicável cuja construção a piedade atribui a São José
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Há na cidade de Santa Fé, no Estado do Novo México, EUA, uma capela conhecida como Loretto Chapel.

Nela destaca-se uma bela e despretensiosa escada.

A piedade tradicional atribui a construção a São José.

Mas, quem a fez? Como a fez? Ninguém consegue descifrar o mistério da "escada milagrosa".

A piedosa tradição

Em 1898 a Capela passou por uma reforma. Um novo piso superior foi feito, porém faltava a escada para subir.

As Irmãs consultaram os carpinteiros da região e todos acharam difícil fazer uma escada numa Capela tão pequena.

As religiosas, então, rezaram uma novena a São José para pedir uma solução.

No último dia da novena, apareceu um homem com um jumento e uma caixa de ferramentas. Ele aceitou fazer a escada, porém exigiu que fosse com as portas fechadas.

Fachada da capela
Fachada da capela
Meses depois a escada estava construída como queriam as Irmãs. No momento de pagar o serviço, o homem desapareceu sem deixar vestígios.

As religiosas puseram anúncios no jornal local e procuraram por toda a região sem encontrar quaisquer noticias ou informações sobre o ignoto carpinteiro.

Nesse momento as Irmãs perceberam que o homem poderia ser São José, enviado por Jesus.

Há vários elementos que reforçam a aura de piedoso mistério que envolve a construção da escada:

A madeira utilizada não é da região, e ninguém sabe como foi parar lá.

Tampouco foi utilizado prego na escada, apenas pinos de madeira.

Além do mais, hoje soa misterioso que ela se mantenha em pé pois é do tipo caracol e não tem apoio central.

Na verdade apenas um apoio colateral metálico foi acrescentado a posteriori . Mas isso não resolve a essência do incógnita.

Diz-se que engenheiros e arquitetos não conseguiram desvendar a física por trás da obra.

Por fim, a escada tem 33 degraus, a idade de Jesus Cristo, o que reforça ainda mais a suposição de um fenômeno de origem sobrenatural.

A Capela recebe em média 200 casamentos por ano e centenas de turistas. Ela ficou conhecida como a Escada Milagrosa.

Grande número de artigos e programas de TV foram dedicados a ela e seus “mistérios”. O essencial do piedoso relato encontra-se no site oficial da Capela .

Interior da capela
Interior da capela
As objeções de um cético

Mas, também apareceram análises objetantes ou céticas. Uma das mais características foi do Comitê de Inquérito Cético (The Committee for Skeptical Inquiry). O “cético” responsável pela análise é Joe Nickell.

Ele é autor do livro sintomaticamente intitulado “À procura de um milagre” e outros escritos que põem em dúvida até realidades que, como o Santo Sudário de Turim, são de pasmar até para a ciência.

Ele cita vasta bibliografia para provar o que a cultura e o bom senso conhecem: a técnica de escadas sem eixo é tradicional e já era dominada pelos nossos antepassados.

Apenas que podem ser frágeis, enquanto que esta se mostra especialmente duradoura.

A ausência de pregos não há de espantar.

Um velho marceneiro campista contava com admiração que quando ele próprio apreendeu o ofício, seus mestres faziam questão de construir complicados arranjos sem empregar pregos nem mesmo cola.

Compreendi melhor isso, anos depois, num hotel da Borgonha, França, instalado numa antiga dependência abacial construída na Idade Média.

Um admirável vigamento sustenta o telhado sem um só prego.

Ainda na França voltei a ver num pequeno castelo mais um exemplo da sabedoria dos marceneiros de outrora: todo o vigamento em que se apoiam as ardósias é feito com um jogo admirável de traves encaixadas.

Aliás, essa técnica é a que explica a ousadia do gótico num tempo que no se conhecia o cimento armado.

Catedrais e outros prédios medievais foram levantados com encaixes de pedras que “travam”.

Depois não caíram nem com os bombardeios das Guerras Mundiais.

O cético Joe Nickell entregou ao muito oficial e respeitado U.S. Forest Service’s Center for Wood Anatomy uma amostra da madeira da escada para identificação.

A resposta foi: Pinaceae, da variedade Picea. Ou simplesmente abeto, o pinheiro mais usado no Natal nos EUA.

Nickell trabalhava com a idéia comum que se tem de milagre: um fenômeno que viola as leis da física.

E, tudo considerado, Nickell concluiu com ceticismo que na melhor das hipóteses, a escada não passa de um “milagre parcial”.

Mas concluindo isto, acabou dando reforçando a idéia de um milagre. Pois, o conceito católico de milagre é matizado.

O milagre segundo São Tomás de Aquino

“Milagre equivale a cheio de admiração, quer dizer, aquilo que tem uma causa oculta em absoluto e para todos. Esta causa é Deus.

“Portanto, chamam-se milagres aquelas coisas feitas por Deus fora da ordem de causas conhecidas por nós. (...) O milagre é uma obra difícil porque excede a natureza. Pela mesma razão se diz que é insólito porque acontece fora da ordem costumeira.” (Suma Teológica, I, q. 107, art 7).

Santo Tomás divide os milagres em três categorias.

A primeira, e a mais impressionante, é a dos fenômenos que contradizem as regras da natureza. Por exemplo, se o sol voltar atrás ou parar. Estes são os milagres maiores.

A segunda categoria é a dos fatos admiráveis produzidos por alguém ou algo que não tem capacidade para realizá-los. Por exemplo, um santo ressuscitar um morto ou fazer andar um paralítico.

Imagem de São José venerada na capela
Imagem de São José venerada na capela
O santo, por exemplo, é um ser humano e não pode fazer isso, logo se conclui que interveio a propósito dele uma força superior capaz de fazer o prodígio.

E esta força só pode ser sobrenatural, angélica ou divina. São os milagres de segunda grandeza.

Por fim, a terceira categoria, é a dos fatos que excedem a natureza pelo modo e pela ordem que são produzidos.

Por exemplo, um encadeamento de fenômenos que é inexplicável para os homens.

Em si cada elo da corrente é explicável, mas a sucessão é tão rara que na prática nunca acontece.

Enche de maravilha por tanto que aconteça, e tem propósito falar de milagre, pois interveio uma causa sobrenatural que fez funcionar a natureza com um modo e com uma ordem que maravilha aos homens. É a categoria ínfima dos milagres.

O cético Nickell parece ter sentido algo na linha desta terceira categoria que o levou a escrever que, na melhor das hipóteses, trata-se de um “milagre parcial”.

No caso da “escada milagrosa” de Santa Fé acresce um elemento que não pertence à ordem do milagre, mas que é um sinal sensível da ação da graça: a unção que acompanha o relato da origem da escada.

A unção sobrenatural é tal vez o fator que mais atrai os fiéis. E é dos sinais mais sensíveis da presença de Deus. Algo dessa unção pode se sentir na apresentação seguinte: